Estudo de coorte com mais de 17 mil pacientes com hepatite C crônica traz evidências robustas de que o tratamento antiviral não apenas reduz o risco de câncer hepático, como também está associado à diminuição significativa da incidência de câncer de pulmão e linfoma não-Hodgkin (LNH). Os resultados reforçam a importância da erradicação viral precoce para mitigar riscos oncológicos extra-hepáticos.
O tratamento antiviral para o vírus da hepatite C (VHC) demonstrou reduzir o risco de câncer de fígado, mas existem poucos estudos sobre seu impacto no risco de cânceres não hepáticos. Nessa análise, os pesquisadores utilizaram uma grande coorte de pacientes com vírus da hepatite C com acompanhamento extenso para investigar se a terapia antiviral afeta o risco de cânceres extra-hepáticos.
O estudo acompanhou 17.485 pacientes com VHC até a incidência de câncer de pulmão, linfoma não Hodgkin (LNH), câncer de mama ou próstata, óbito ou último acompanhamento. Foi utilizada modelagem multivariável com covariáveis de tempo e escores de propensão para ajustar o viés de seleção do tratamento; além da aplicação de equações de estimativa generalizadas (GEE) com uma função de ligação multinominal para dados discretos de tempo até o evento. O óbito foi considerado um risco competitivo.
Após 15 anos de acompanhamento, identificamos 408 casos incidentes de câncer, incluindo 140 de pulmão, 72 de LNH, 81 de mama (feminino) e 115 de próstata.
Em comparação com a ausência de tratamento, os pacientes que receberam antivirais de ação direta (AAD) ou tratamento à base de interferon (IFN) apresentaram risco significativamente menor de câncer de pulmão (razão de risco [HR] = 0,35, IC 95% 0,24-0,52 para obtenção de resposta virológica sustentada [RVS]; HR = 0,34, IC 95% 0,21-0,55 para falha do tratamento).
O risco de LNH foi reduzido apenas entre os pacientes que alcançaram resposta virológica sustentada. Não foram observadas associações significativas entre a terapia antiviral e os riscos de câncer de mama e próstata.
Os dados destacam um benefício oncológico adicional do tratamento antiviral contra o HCV, indo além da já estabelecida prevenção do carcinoma hepatocelular. A redução do risco de câncer de pulmão, mesmo em pacientes que não alcançaram resposta virológica sustentada, sugere possíveis mecanismos anti-inflamatórios ou imunomoduladores associados ao tratamento em si. “Já no caso do LNH, o benefício foi restrito à erradicação viral efetiva, o que está em consonância com evidências anteriores que associam a infecção crônica pelo HCV à linfoproliferação”, observam os autores.
“O início oportuno do tratamento antiviral em pacientes com hepatite C deve ser priorizado não apenas pela prevenção de complicações hepáticas, mas também pela potencial redução do risco de determinados cânceres extra-hepáticos. O estudo reforça o papel da resposta virológica sustentada como marcador clínico de redução de risco oncológico em pacientes com HCV crônico”, concluem.
Referência:
Meng Hua Tao, Trueman Wu, Stuart C. Gordon, Yueren Zhou, Loralee B. Rupp, Sheri Trudeau, Mark A. Schmidt, Yihe G. Daida, Mei Lu; Antiviral treatment Reduces Risk of Development of Lung Cancer and non-Hodgkin Lymphoma in Patients with Chronic Hepatitis C. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 2025; https://doi.org/10.1158/1055-9965.EPI-25-0617