A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) ampliou a indicação terapêutica de durvalumabe (IMFINZI®, AstraZeneca) no câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP). A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 1º de setembro com base nas evidências de eficácia e segurança do estudo AEGEAN, que demonstrou benefício de durvalumabe nos desfechos de pacientes com CPCNP no contexto do tratamento com intenção curativa.
O câncer de pulmão é a principal causa de morte por câncer entre homens e mulheres, responsável por cerca de um quinto de todas as mortes por câncer. A cirurgia se mantém como espinha dorsal do tratamento de intenção curativa para pacientes com CPCNP com doença estadio I-IIIA, como recomendam as diretrizes do NCCN. No entanto, existem claras necessidades não atendidas mesmo após a ressecção curativa, uma vez que micro metástases podem levar à recorrência da doença. As taxas de sobrevida global em 5 anos são de 53% para pacientes com estadio IIB e caem para apenas 26% na doença avançada (estádio IIIB).
É nesse contexto que os regimes perioperatórios baseados na imunoterapia (IO) têm a intenção de atuar contra as células tumorais antes e depois da cirurgia.
AEGEAN foi um estudo multicêntrico de Fase III, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, desenhado para avaliar a eficácia de durvalumabe em combinação com quimioterapia à base de platina como tratamento neoadjuvante, seguido da continuação de durvalumabe em monoterapia após a cirurgia, em pacientes com CPCNP ressecável, com tumores ≥ 4 cm e/ou nódulo positivo, sem mutações conhecidas no receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) ou rearranjos da quinase do linfoma anaplásico (ALK).
No estudo pivotal AEGEAN (NCT03800134) foram incluídos pacientes com CPCNP escamoso ou não escamoso sem tratamento prévio, com status performance da OMS/ECOG de 0 ou 1 e pelo menos uma lesão-alvo avaliada por RECIST 1.1.
Um total de 802 pacientes foram randomizados em uma proporção de 1:1 para receber durvalumabe perioperatório (Braço 1) ou placebo (Braço 2) em combinação com quimioterapia neoadjuvante. Não foi permitido cruzamento entre os braços do estudo. Pacientes elegíveis receberam quimioterapia à base de platina mais durvalumabe ou placebo, administrados por via intravenosa a cada 3 semanas durante 4 ciclos antes da cirurgia, seguidos por durvalumabe adjuvante ou placebo por via intravenosa a cada 4 semanas durante 12 ciclos. A randomização foi estratificada de acordo com o estágio da doença (II ou III) e a expressão do ligante de morte programada 1 (PD-L1) (≥1% ou <1%). Os desfechos primários foram resposta patológica completa (pCR), avaliada por revisão central cega de patologia, e sobrevida livre de eventos (SLE), definida como o tempo até a ocorrência mais precoce de doença progressiva que impediu a cirurgia ou a conclusão da cirurgia, recorrência da doença ou morte por qualquer causa (avaliada de forma cega por revisão central independente). A sobrevida global (SG) foi um desfecho secundário chave.
As análises de eficácia foram realizadas na população com intenção de tratar modificada, enquanto a segurança foi avaliada em todos os pacientes que foram submetidos à randomização e receberam pelo menos uma dose de qualquer tratamento do estudo.
Na análise primária pré-especificada (data de corte de dados: 10 de novembro de 2022), com maturidade de 31,9% e seguimento mediano de 11,7 meses, a duração da sobrevida livre de eventos foi significativamente maior com durvalumabe do que com placebo; a razão de risco (HR) para progressão da doença, recorrência ou morte foi de 0,68, indicando que durvalumabe reduziu em 32% o risco de SLE (intervalo de confiança [IC] de 95%, 0,53 a 0,88; P = 0,004). Na análise de referência de 12 meses, a SLE foi observada em 73,4% dos pacientes que receberam durvalumabe (IC de 95%, 67,9 a 78,1), em comparação com 64,5% daqueles que receberam placebo (IC de 95%, 58,8 a 69,6).
O tratamento perioperatório com durvalumabe também aumentou a resposta patológica completa (pCR), que foi significativamente maior com durvalumabe do que com placebo (17,2% vs. 4,3%; IC de 95%, 8,7 a 17,6; P < 0,001). A sobrevida livre de eventos e o benefício da resposta patológica completa foram observados independentemente do estágio da doença e da expressão de PD-L1.
Em relação à segurança, eventos adversos de grau máximo 3 ou 4 ocorreram em 42,4% dos pacientes com durvalumabe e em 43,2% dos participantes que receberam placebo.
Em síntese, em pacientes com CPCNP ressecável, o tratamento com durvalumabe perioperatório mais quimioterapia neoadjuvante prolongou a sobrevida livre de eventos e aumentou a incidência de resposta patológica completa em relação à quimioterapia neoadjuvante isoladamente, com perfil de segurança consistente com o perfil de segurança individual dos agentes.
Durvalumabe (IMFINZI®, AstraZeneca) é um anticorpo monoclonal IgG1 humano seletivo e de alta afinidade que se liga à proteína PD-L1 e bloqueia sua interação com as proteínas PD-1 e CD80, combatendo as táticas de evasão imunológica dos tumores e liberando as respostas imunológicas.
Referências:
Diário Oficial da União – Resolução-RE nº 3.352, de 28 de agosto de 2025 – Publicado em: 01/09/2025 | Edição: 165 | Seção: 1 | Página: 153 Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-re-n-3.352-de-28-de-agosto-de-2025-652034905
NEJM 2023, Heymach JV et al. DOI: 10.1056/NEJMoa2304875