Onconews - Revisão sistemática avalia papel das abordagens psicossociais nos cuidados oncológicos paliativos

Estudo publicado no periódico BMJ Supportive & Palliative Care lança luz sobre os efeitos das intervenções psicossociais na qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL, na sigla em inglês) de adultos com câncer em cuidados paliativos. A revisão sistemática incluiu 17 estudos publicados entre 2004 e março de 2024 e revelou que, embora algumas abordagens tragam benefícios sustentáveis, ainda há lacunas significativas na evidência científica disponível.

“As intervenções psicossociais demonstram grande potencial para melhorar a qualidade de vida relacionada à saúde em adultos com câncer incurável; no entanto, a diversidade dessas intervenções e as preocupações com a robustez das evidências criam desafios na avaliação de sua eficácia”, contextualizam os autores.

Nessa revisão, os pesquisadores realizaram uma busca sistemática nas bases de dados MEDLINE, PsycINFO, CINAHL, Scopus e Medic para identificar ensaios clínicos randomizados, estudos quasi- experimentais e estudos de coorte, de 2004 a março de 2024, com o objetivo de influenciar a qualidade de vida relacionada à saúde ou o bem-estar psicossocial.

Foram inicialmente identificados 635 artigos, e após a remoção de duplicatas, triagem de títulos e resumos, avaliação de elegibilidade e triagem da lista de referências dos estudos incluídos, 17 estudos foram incluídos na revisão.

Entre os achados, destaca-se a grande heterogeneidade das intervenções psicossociais analisadas, em sua maioria estruturadas, individuais, realizadas presencialmente ou remotamente, e com aplicação de múltiplos métodos combinados. Os profissionais que realizaram a intervenção tinham formação em psicologia, enfermagem ou serviço social.

Os desfechos mais frequentes foram qualidade de vida, depressão e ansiedade, medidos por meio de diversos instrumentos. Dos estudos, 35% relataram melhorias significativas e sustentáveis. Os resultados favoreceram a intervenção individual e a abordagem multimétodos.

Os autores ressaltam que, apesar do potencial das intervenções psicossociais, ainda há limitações importantes em sua definição, desenho e avaliação. A ausência de consenso sobre o que constitui uma intervenção psicossocial — e como ela se diferencia de abordagens psicológicas, sociais ou espirituais — dificulta tanto a implementação prática quanto a produção de evidências científicas robustas.

"É fundamental avançar na discussão interprofissional sobre a natureza e os limites dessas intervenções nos cuidados paliativos oncológicos", destacam os pesquisadores.

A revisão sinaliza caminhos para a construção de políticas mais eficazes no cuidado de pacientes com câncer incurável. Além da necessidade de estudos com maior rigor metodológico, o trabalho reforça a importância de intervenções individualizadas, adaptadas às necessidades emocionais e contextuais de cada paciente.

Para a prática clínica, nosso estudo sugere que equipes multidisciplinares considerem integrar diferentes abordagens psicossociais de forma estruturada, mas com atenção à personalização do cuidado. Já para a pesquisa, o desafio imediato está na padronização de definições e metodologias que permitam avaliar com mais precisão os reais benefícios dessas intervenções”, concluem.
Referência:

Mikkonen H, Hökkä M, Saarto T, et al. Psychosocial interventions and health-related quality of life in adults with incurable cancer: systematic review. BMJ Supportive & Palliative Care 2025;15:572-585.