O carcinoma metaplásico de mama (CMM) é um grupo de tumores altamente heterogêneo, que difere de outros carcinomas invasivos na apresentação clínica, prognóstico e resposta ao tratamento. Estudo de pesquisadores do Hospital de Câncer de Barretos e do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM/UNICAMP) analisou dados de pacientes atendidas nessas instituições entre 2010 e 2020, correlacionando desfechos clínicos e padrões de tratamento. Os resultados estão em artigo de Talita Aparecida Riegas Mendes (foto) e colegas, na Frontiers in Oncology.
O tratamento mais eficaz para o CMM permanece incerto e atualmente segue terapias estabelecidas para o carcinoma ductal invasivo, mas por ser uma doença heterogênea, diferentes respostas aos tratamentos disponíveis podem ser observadas. “Nesse contexto, torna-se necessário reunir ou confirmar informações sobre CMM em mulheres brasileiras, dados até então não avaliados, contribuindo para a adoção de estratégias terapêuticas mais eficazes para desfechos oncológicos mais favoráveis”, destacam os autores.
Neste estudo retrospectivo, Mendes et al. incluíram 102 mulheres com CMM confirmado patologicamente, sem doença metastática. A média de idade ao diagnóstico foi de 53 anos e 73,3% dos casos eram do subtipo triplo negativo (TN). O tamanho médio do tumor ao diagnóstico era de 7,4 cm.
A análise revela que 59% das pacientes apresentavam estádio clínico III ao diagnóstico e 82,3% foram submetidas à mastectomia. Os resultados mostram que, apesar do uso de tratamento neoadjuvante em 52,9% das pacientes, a taxa de resposta patológica completa (pCR) foi de apenas 7,4%. Cerca de 46% das pacientes foram submetidas à quimioterapia adjuvante e 79,4% receberam radioterapia adjuvante. A sobrevida global (SG) em 5 anos foi de 59,7% e a sobrevida livre de doença (SLD) em 5 anos de 54,4%. Quimioterapia adjuvante, tumor de menor tamanho e ausência de doença linfonodal foram associados a melhor SLD e SG.
“ O câncer de mama metaplásico apresentou-se como uma grande lesão nodular ao diagnóstico, os subtipos metaplásicos mais frequentes apresentaram diferenciação escamosa e mesenquimal, quase 80% eram tumores triplo-negativos; no entanto, as respostas à quimioterapia neoadjuvante podem ser consideradas ruins”, concluem os autores, acrescentando que um maior número de linfonodos metastáticos e tumor de maior tamanho foram associados a pior SLD e SG, enquanto as mulheres submetidas à quimioterapia adjuvante apresentaram melhor SLD e SG. “Além disso, a maioria das recorrências ocorreu nos primeiros 24 meses de acompanhamento, estabilizando-se em aproximadamente 50% após 36 meses, enquanto a maioria dos óbitos ocorreu nos primeiros 36 meses, estabilizando-se posteriormente, o que constitui um padrão clínico de tumores muito agressivos”, analisam.
O carcinoma metaplásico de mama é um subtipo histológico especial de câncer de mama invasivo, que apresenta comportamento mais agressivo e representa 0,2% a 5% de todos os casos de câncer de mama. Embora raro, esse tumor tem sido cada vez mais diagnosticado nos últimos anos, especialmente em consequência do melhor reconhecimento histopatológico.
Além de Talita Aparecida Riegas Mendes, o trabalho contou com a participação dos pesquisadores Idam de Oliveira Junior, Fabrício Palermo Brenelli, Cassio Cardoso Filho e Luiz Carlos Zeferino.
Referência:
Mendes TAR, de Oliveira-Junior I, Brenelli FP, Cardoso-FIlho C and Zeferino LC (2025) Clinicopathological characteristics, treatments and oncological outcomes in metaplastic breast cancer: a Brazilian multicenter analysis. Front. Oncol. 15:1568178. doi: 10.3389/fonc.2025.1568178