Onconews - Relatório da AACR destaca impacto vital de investimentos federais na pesquisa oncológica

O progresso da ciência contra o câncer salvou milhões de vidas nas últimas décadas — e isso tem uma explicação clara: o investimento contínuo em pesquisa. É o que reforça o Relatório Anual de Progresso contra o Câncer 2025, publicado pela American Association for Cancer Research (AACR). O documento, em sua 15ª edição, também chama atenção para o crescimento dos cânceres de início precoce, diagnosticados em adultos com menos de 50 anos; e alerta para as desigualdades no acesso ao diagnóstico e tratamento.

O relatório revela que entre julho de 2024 e junho de 2025, a FDA aprovou 20 novos medicamentos contra o câncer, incluindo terapias inéditas com células TCR, anticorpos terapêuticos inovadores e a primeira droga-alvo para tumores cerebrais com mutação IDH. O relatório também destaca o papel crescente de tecnologias como inteligência artificial, biópsias líquidas e testes genéticos de triagem precoce, aprovados recentemente, no diagnóstico e no rastreamento mais preciso e menos invasivo de diferentes tipos de câncer.

“A pesquisa oncológica está transformando vidas”, afirma a presidente da AACR, Lillian L. Siu, ao enfatizar a necessidade de colaboração entre pesquisadores, clínicos, pacientes, formuladores de políticas públicas e a sociedade civil. “Com investimento contínuo e políticas públicas sólidas, é possível imaginar um futuro com menos casos de câncer, mais curas e melhor qualidade de vida para todos os pacientes”, disse.

A edição deste ano destaca o avanço no tratamento de cânceres hematológicos, com uma seção especial mostrando como os aprendizados obtidos nesses tumores guiaram o desenvolvimento de terapias para tumores sólidos e até para doenças não oncológicas. Nos últimos dez anos, a FDA aprovou 29 novas terapias-alvo e 21 imunoterapias para doenças hematológicas. Entre os marcos está a evolução das terapias CAR-T, que hoje representam um divisor de águas no manejo de linfomas, leucemias e mieloma múltiplo. Segundo o relatório, o impacto é visível nas estatísticas: a mortalidade por linfoma não Hodgkin caiu 43% desde 1991, enquanto a mortalidade por mieloma múltiplo caiu 31%, mesmo com aumento da incidência da doença.

Apesar dos avanços, o cenário continua desafiador. Em 2025, estima-se que mais de 2 milhões de novos casos de câncer serão diagnosticados e mais de 618 mil pessoas morrerão da doença nos EUA.

O relatório chama atenção para o crescimento dos cânceres de início precoce, aqueles diagnosticados em adultos com menos de 50 anos. O câncer colorretal, por exemplo, teve um aumento médio de 5% ao ano na incidência entre jovens adultos entre 2018 e 2022, enquanto caiu entre idosos. As causas ainda são investigadas, mas fatores como obesidade, exposição a microplásticos, uso prolongado de antibióticos e substâncias químicas como PFAS estão entre os suspeitos.

Outro alerta é para as desigualdades no acesso ao diagnóstico e tratamento, que continuam impactando negativamente diversos grupos populacionais. Disparidades raciais, socioeconômicas e geográficas ainda definem diferenças significativas nos desfechos clínicos e no risco de morte.

Um dos pontos mais críticos do relatório é a instabilidade política e orçamentária que afeta o National Institutes of Health (NIH). A AACR adverte que, sem uma reposição urgente dos recursos congelados e sem aumento dos investimentos em 2026, corre-se o risco de comprometer o futuro de cientistas e pacientes.

Os dados também mostram que cada US$ 1 investido no NIH gera US$ 2,56 em atividade econômica, com mais de 407 mil empregos criados em 2024. Desde 2010, 99% dos medicamentos aprovados pela FDA tiveram contribuição de pesquisas financiadas pelo NIH. 

“Os avanços são reais, mas seu futuro depende de decisões políticas agora. Enquanto o número de sobreviventes de câncer nos EUA chega a 18,6 milhões, e a taxa de mortalidade cai de forma histórica, o momento exige responsabilidade dos governantes para que esse progresso não se perca”, conclui a publicação.

Para acessar o relatório na íntegra, clique aqui.