Os brasileiros Mateus Trinconi Cunha (na foto, à direita) e Matheus Sewastjanow-Silva, do MD Anderson Cancer Center, são coautores de estudo prospectivo de centro único que avaliou o uso exclusivo de quimioterapia como abordagem de preservação de órgão em pacientes com carcinoma espinocelular de laringe em estágios II–IVa. Os resultados de 21 anos de acompanhamento foram publicados na Cancer, periódico da American Cancer Society, e revelam que a quimioterapia exclusiva se mostrou uma estratégia viável e menos invasiva para pacientes que alcançam resposta patológica completa. A oncologista brasileira Renata Ferrarotto é a autora sênior do trabalho.
As opções de tratamento atuais para o carcinoma espinocelular de laringe não metastático incluem radioterapia, quimiorradioterapia e cirurgia, que podem resultar em morbidade significativa.
Neste ensaio clínico prospectivo, de braço único e realizado em uma única instituição, 31 pacientes com carcinoma espinocelular de laringe em estágios II–IVa receberam três ou quatro ciclos de paclitaxel, ifosfamida e um agente de platina (TIP). Pacientes com resposta patológica completa (pCR) avaliada por biópsia receberam três ciclos adicionais sem terapia local. Pacientes com resposta parcial foram submetidos à cirurgia conservadora da laringe (CCL). O desfecho primário foi a taxa de preservação da laringe (TPL) em 2 anos. Os desfechos secundários incluíram sobrevida livre de recorrência (SLR), sobrevida global (SG) e complicações a longo prazo.
Entre os 11 pacientes (35%) que alcançaram resposta patológica completa e seguiram apenas com quimioterapia, nenhum necessitou de laringectomia ao longo de mais de duas décadas. Apenas um caso de recorrência foi documentado, controlado com radioterapia de resgate. Já entre os 19 pacientes submetidos à cirurgia conservadora ou radioterapia, sete apresentaram recorrência e seis precisaram de laringectomia posterior, refletindo um desfecho menos favorável.
A taxa de preservação da laringe em 20 anos atingiu 72%, apontando para um benefício consistente da estratégia baseada na resposta patológica completa. A mediana de sobrevida global foi de 13,5 anos, e a sobrevida livre de recorrência alcançou 10,3 anos.
Os resultados também revelam que pacientes com resposta patológica completa apresentaram significativamente menos complicações a longo prazo, incluindo menores taxas de dependência de sonda de alimentação e traqueostomia (p < 0,01), reforçando o valor funcional da preservação de órgão.
Em síntese, este acompanhamento de longo prazo reforça que a técnica de preservação da laringe isoladamente é uma estratégia eficaz para a preservação da laringe em pacientes com carcinoma espinocelular de laringe que alcançam resposta patológica completa. “São necessárias mais investigações sobre a terapia sistêmica para o tratamento do câncer laríngeo, incluindo combinações menos tóxicas e imunoterapia, bem como a incorporação de biomarcadores baseados em tecido e sangue”, concluem os pesquisadores.
Referência:
Trinconi Cunha M, Sewastjanow-Silva M, Holsinger FC, et al. Chemotherapy alone for stage II–IVa laryngeal squamous cell carcinoma: a 20-year follow-up. Cancer. 2025;e70177. doi:10.1002/cncr.70177