A U.S. Food and Drug Administration (FDA) aprovou o uso de durvalumabe (Imfinzi®, Astrazeneca) associado ao esquema quimioterápico padrão FLOT (5-fluorouracil, leucovorina, oxaliplatina e docetaxel) como tratamento perioperatório seguido de manutenção com durvalumabe em monoterapia para adultos com adenocarcinoma gástrico ou da junção gastroesofágica (GC/GEJC) ressecável, em estágios II, III e IVA. A decisão da agência reguladora norte-americana é baseada nos resultados do estudo randomizado de Fase III MATTERHORN.
MATTERHORN é um estudo de Fase III, multicêntrico, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, que avalia durvalumabe como tratamento perioperatório para pacientes com câncer gástrico e da junção gastroesofágica (JGE) ressecáveis em estágios II-IVA. A terapia perioperatória inclui o tratamento antes e depois da cirurgia (neoadjuvante/adjuvante).
No estudo, 948 pacientes foram randomizados para receber uma dose fixa de 1500 mg de durvalumabe mais quimioterapia FLOT ou placebo mais quimioterapia FLOT a cada quatro semanas, durante dois ciclos, antes da cirurgia. Após a cirurgia, os pacientes receberam durvalumabe ou placebo a cada quatro semanas, por até 12 ciclos (incluindo dois ciclos de durvalumabe ou placebo mais quimioterapia FLOT e 10 ciclos adicionais de monoterapia com durvalumabe ou placebo).
O desfecho primário é a Sobrevida Livre de Eventos (SLE), definida como o tempo desde a randomização até a data de um dos seguintes eventos (o que ocorrer primeiro): progressão segundo os critérios RECIST (versão 1.1, conforme avaliação por revisão central independente e cega) que impeça a cirurgia ou exija terapia fora do protocolo durante o período neoadjuvante; progressão/recorrência segundo os critérios RECIST durante a adjuvância; progressão segundo os critérios RECIST que impeça a cirurgia ou exija terapia fora do protocolo durante o período neoadjuvante ou descoberta durante a cirurgia; progressão/recorrência confirmada por biópsia pós-cirúrgica; ou óbito por qualquer causa.
Os principais desfechos secundários incluem a taxa de resposta patológica completa, definida como a proporção de pacientes que não apresentam células cancerígenas detectáveis no tecido tumoral ressecado após a terapia neoadjuvante, e Sobrevida Global (SG). O estudo recrutou participantes em 176 centros em 20 países.
Os resultados de sobrevida livre de eventos foram apresentados durante a Sessão Plenária do ASCO 2025 e publicados simultaneamente na New England Journal of Medicine. A mediana da SLE não foi atingida no grupo durvalumabe mais FLOT (intervalo de confiança [IC] de 95%, 40,7 meses – não estimável [NE]), em comparação com 32,8 meses no grupo placebo + FLOT (IC de 95%, 27,9 meses – NE) (razão de risco [RR] 0,71; P < 0,001).
A aprovação também foi apoiada por dados de sobrevida global (SG) apresentados no Congresso ESMO 2025. A mediana de SG não foi alcançada em nenhum dos grupos, mas durvalumabe demonstrou redução de 22% no risco de morte (HR 0,78; p=0,021). Aos 36 meses, 69% dos pacientes no braço experimental estavam vivos, contra 62% no grupo placebo + FLOT.
“Embora as medianas não tenham sido atingidas em nenhum dos grupos, as curvas se separaram aos 13 meses e a diferença entre os grupos continuou a aumentar até a análise de marco temporal aos 36 meses, momento em que foi observada uma melhora absoluta de 6,7% (sobrevida de 68,6% no grupo experimental e 61,9% com placebo mais FLOT)”, afirmou o oncologista Josep Tabernero, do Instituto de Oncologia Vall d’Hebron, em Barcelona, durante apresentação dos resultados no congresso europeu.
A taxa de resposta patológica completa (pCR) foi de 19,2% no grupo durvalumabe e 7,2% no grupo placebo (P<0,001). De acordo com os resultados do estudo publicados no New England Journal of Medicine em junho, eventos adversos com grau máximo de 3 ou 4 foram relatados em 340 participantes (71,6%) no grupo durvalumabe e em 334 (71,2%) no grupo placebo. A porcentagem de participantes com cirurgia adiada foi de 10,1% e 10,8% nos dois grupos, e a porcentagem com início tardio do tratamento adjuvante foi de 2,3% e 4,6%, respectivamente.
A dose recomendada de durvalumabe para pacientes com peso igual ou superior a 30 kg é de 1.500 mg a cada 4 semanas, em combinação com quimioterapia, por até 4 ciclos (tratamento neoadjuvante e adjuvante), seguida de 1.500 mg como agente único a cada 4 semanas, por até 10 ciclos (adjuvante). A dose recomendada de durvalumabe para pacientes com peso inferior a 30 kg é de 20 mg/kg em combinação com quimioterapia a cada 4 semanas, por até 4 ciclos (tratamento neoadjuvante e adjuvante), e de 20 mg/kg como agente único a cada 4 semanas, por até 10 ciclos (adjuvante). O tratamento deve ser continuado até a progressão da doença, recidiva ou toxicidade inaceitável, ou por um máximo de 12 ciclos após a cirurgia.
“A aprovação de hoje marca o primeiro regime de imunoterapia aprovado no contexto neoadjuvante para cânceres gástricos e da junção gastroesofágica — com durvalumabe demonstrando um claro benefício em termos de sobrevida global e abrindo um capítulo totalmente novo no tratamento da doença em estágio inicial. Quase sete em cada dez pacientes estavam vivos três anos após o tratamento com o regime perioperatório baseado em durvalumabe. Esse benefício de sobrevida, observado independentemente do status de PD-L1, estabelece um novo padrão de tratamento nesse contexto com intenção curativa”, observou a oncologista Yelena Y. Janjigian, chefe do Serviço de Oncologia Clínica Gastrointestinal do Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSK), em Nova York, e investigadora principal do estudo.