Análise do estudo longitudinal iCanCare avalia a queda na comunicação e no engajamento de médicos da atenção primária ao longo da jornada de sobrevivência. Os resultados publicados no periódico Cancer sugerem que a transição entre o tratamento inicial e o seguimento de longo prazo pode estar fragilizando um elo importante do cuidado.
O estudo iCanCare é um estudo longitudinal de mulheres diagnosticadas com câncer de mama entre 2014 e 2015 nos registros do programa SEER (Surveillance, Epidemiology and End Results) de Los Angeles e Geórgia. As mulheres foram entrevistadas durante o tratamento inicial (baseline) e novamente aproximadamente 6 anos depois, durante o acompanhamento (N total = 1412; taxa de resposta de 60%; n = 825 após exclusões).
As pacientes relataram o quanto seus médicos da atenção primária estavam informados sobre seus cuidados oncológicos (engajamento) e com que frequência discutiam o tema na atenção primária (comunicação). Modelos ajustados de regressão logística ponderada permitiram identificar mudanças ao longo do tempo e fatores associados à baixa comunicação na sobrevivência tardia.
Nesta amostra populacional de 825 mulheres, 39,5% relataram pior comunicação com o médico da atenção primária e 37,9% relataram pior engajamento com o MAP durante o período de sobrevida mais longo em comparação com o tratamento inicial.
Os resultados também apontaram um efeito protetor da boa comunicação inicial: mulheres que reportaram alto engajamento e comunicação na linha de base tiveram metade do risco de baixa interação anos depois (razão de chances ajustada, 0,50 [intervalo de confiança de 95%, 0,37–0,68] para engajamento e 0,43 [intervalo de confiança de 95%, 0,32–0,58]) para comunicação.
“Apesar do crescente reconhecimento da atenção primária como componente essencial do cuidado ao sobrevivente, os dados sugerem que muitos médicos da atenção primária continuam pouco integrados ao seguimento oncológico a longo prazo. A desconexão pode comprometer áreas críticas, como vigilância de recorrência, manejo de efeitos tardios e coordenação de cuidados para comorbidades”, avaliam os autores, ressaltando a importância de estratégias que promovam engajamento sustentado, incluindo planos de sobrevivência claros, comunicação estruturada entre oncologia e atenção primária e capacitação específica, para fortalecer a qualidade da assistência no pós-tratamento.
“O estudo reforça a necessidade de modelos de cuidado integrados e de longo prazo para mulheres com câncer de mama, destacando que a qualidade da comunicação no início do tratamento pode ser determinante para a experiência do sobrevivente anos depois”, concluem.
Referência:
Mullins MA, Wang T, Furgal A, et al. Changes in patient-reported primary care engagement in and communication about survivorship care from initial breast cancer treatment to longer-term survivorship. Cancer. 2025;e70181. doi:10.1002/cncr.70181