Pesquisa que avaliou o impacto do programa brasileiro de vacinação contra o HPV na incidência do câncer cervical e da neoplasia intraepitelial cervical grau 3 (NIC3) mostra o êxito da iniciativa, revelando que o programa brasileiro reduziu significativamente a incidência de câncer cervical e NIC3 em mulheres com idades entre 20 e 24 anos. “Esses achados ressaltam o potencial da vacina para reduzir as disparidades de saúde e contribuir para a eliminação do câncer cervical em populações de baixa e média renda”, destacam os autores, em artigo no Lancet Global Health.
Neste estudo de base populacional, Cerqueira-Silva e colegas analisaram a incidência de câncer cervical e NIC3 em mulheres de 20 a 24 anos entre 2019 e 2023, utilizando os bancos de dados de diagnóstico, tratamento e hospitalizações do Brasil. O desfecho primário foi o diagnóstico de câncer cervical (código CID-10 C53) e NIC3 (código D06). As razões de incidência foram estimadas por regressão binomial negativa bayesiana, ajustando para ano civil, idade e trimestre de diagnóstico. O câncer de mama foi utilizado como desfecho de controle negativo. A análise principal utilizou dados do Painel Oncologia (banco de dados de diagnóstico e tratamento).
A base de análise compreendeu 60,6 milhões de mulheres-anos de acompanhamento, com idades entre 20 e 24 anos. Os resultados mostram que foram registrados 1.318 casos de câncer cervical e 2.132 casos de NIC3. As razões de incidência comparando a coorte de nascimentos de 2001-03 com a coorte de nascimentos de 1994-98 foram de 0,42 (intervalo de credibilidade de 95%: 0,27-0,66) para câncer cervical e de 0,33 (0,20-0,53) para NIC3. Os autores descrevem que o desfecho de controle negativo e a exposição apresentaram valores próximos ao valor nulo, com intervalos de credibilidade mais amplos. Análises de sensibilidade utilizando dados de hospitalização mostraram resultados semelhantes.
Este estudo fornece evidências reais do impacto da vacinação contra o HPV no Brasil, demonstrando reduções substanciais no câncer cervical (58%) e NIC3 (67%) entre os grupos vacinados em comparação com os grupos não vacinados. Em 2024, o programa nacional de vacinação contra o HPV comemorou seu 10º aniversário.
Esses resultados corroboram as evidências globais de que a vacinação contra o HPV é uma ferramenta eficaz para a redução do câncer cervical e da NIC3. “Esses achados destacam o impacto potencial da expansão dos programas de vacinação contra o HPV em populações de baixa e média renda, particularmente aquelas com perfis sociais e epidemiológicos semelhantes ao do Brasil”, analisam os autores. “ Além disso, os resultados ressaltam o papel crítico das vacinas como uma das intervenções de saúde pública de maior impacto, demonstrando seu potencial para reduzir as desigualdades globais em saúde e contribuir para os esforços de eliminação do câncer cervical em todo o mundo”.
Além de Thiago Cerqueira-Silva, pesquisador do Laboratório de Medicina e Saúde Pública de Precisão da Fundação Oswaldo Cruz em Salvador, o estudo tem a participação de Manoel Barral-Netto e Viviane Sampaio Boaventura.
A íntegra do estudo está disponível no Lancet Global Health, em acesso aberto.
Referência:
Effect of Brazil's national human papillomavirus vaccination programme on the incidence of cervical cancer and cervical intraepithelial neoplasia grade 3 in women aged 20–24 years: a population-based study. Cerqueira-Silva, Thiago et al. The Lancet Global Health, Volume 13, Issue 10, e1715 - e1722
