O padrão de vigilância com tomografia computadorizada (TC) e dosagens seriadas do antígeno carcinoembrionário (CEA) após a cirurgia curativa para câncer colorretal estágio II/III não proporcionou benefício de sobrevida global em cinco anos. É o que demonstram os resultados do estudo francês PRODIGE-13, publicado no Annals of Oncology.
“O acompanhamento intensivo de pacientes após cirurgia curativa para câncer colorretal é recomendado por diversas sociedades científicas. No entanto, essas recomendações baseiam-se principalmente em opiniões de especialistas, enquanto os resultados dos poucos ensaios clínicos são controversos. Além disso, nenhum benefício na sobrevida foi demonstrado até o momento”, contextualizam os autores.
PRODIGE-13 é um estudo de fase III, prospectivo, multicêntrico, cooperativo e controlado, que avalia, por meio de um plano fatorial, o impacto de i) monitoramento radiológico intensivo (ultrassom abdominal (US)/tomografia computadorizada/3 meses alternados) versus monitoramento padrão (US/3 meses e radiografia torácica/6 meses) e ii) avaliação do Antígeno Carcinoembrionário (CEA) versus nenhuma avaliação, no acompanhamento de pacientes com câncer colorretal estágio II ou III ressecado, sem evidência de doença residual na investigação pós-cirúrgica basal, na França e na Bélgica. O desfecho primário foi a sobrevida global (SG) em 5 anos.
Ao todo, 2.009 pacientes foram randomizados. Entre eles, 16% tinham câncer retal e 44%, câncer de cólon esquerdo; 75,9% tinham menos de 75 anos de idade. Com um acompanhamento médio de 7,8 anos, o câncer recorreu em 22,3% dos pacientes (local 10,5%, metastático 72,9%, ambos 16,6%).
As taxas de sobrevida global em 5 anos foram de 82,1% (IC 95% [78,5;85,2]) no grupo A (imagem intensiva + CEA) vs. 84,1% (IC 95% [80,5;87,0]) no grupo B (imagem intensiva sozinha), vs. 83,6% (IC 95% [80,1;86,6]) no grupo C (imagem padrão + CEA) vs. 79,5% (IC 95% [75,7;82,8]) no grupo D (imagem padrão sozinha) (p(logrank)= 0,170. A mediana de SG foi não alcançada nos quatro grupos.
A sobrevida livre de recidiva (SLR) em cinco anos foi de 73,8% no grupo de vigilância com tomografia computadorizada vs. 69,3% no grupo sem tomografia computadorizada (HR 0,89 [0,76;1,03]; p=0,108). A sobrevida livre de progressão (SLR) em cinco anos foi de 71,3% no grupo de vigilância com CEA vs. 71,8% no grupo sem CEA (HR 1,00 [0,86;1,16]; 0,959).
Apesar da maior taxa de detecção precoce de metástases e de cirurgias de resgate nos grupos com vigilância intensiva, não houve impacto na mortalidade. "A vigilância intensiva, como praticada atualmente, pode gerar ansiedade sem agregar valor clínico para a maioria dos pacientes", avaliam os autores, acrescentando que a a dificuldade em interpretar lesões microespecíficas observadas nas tomografias frequentemente exige exames adicionais (PET-CT, RM, novos testes laboratoriais), aumentando o custo e o estresse dos pacientes sem benefício comprovado.
As evidências reforçam que estratégias de seguimento devem ser individualizadas e baseadas no risco real de recidiva. “A vigilância deve ser reservada para pacientes candidatos a tratamentos com intenção curativa em caso de recidiva”, observam os pesquisadores. “As diretrizes clínicas devem ser revistas, especialmente no que se refere ao uso sistemático do CEA. A tomografia também deve ser utilizada com parcimônia, e sua indicação deve ser discutida caso a caso. Com base nos resultados, exames simples e acessíveis, como a ultrassonografia abdominal, podem ser suficientes em muitos casos, sem prejuízo à sobrevida”, concluem.
Referência:
Lepage C, Phelip J-M, Cany L, et al. for PRODIGE 13 investigators/Collaborators. Effect of 5 years of CT-scan and CEA follow-up on survival endpoints in patients with colorectal cancer. Annals of Oncology; Published online 17 September 2025. DOI:https://doi.org/10.1016/j.annonc.2025.09.004