A ansiedade gerada pela realização de exames de imagem (em inglês, scanxiety) em pacientes com câncer é um fenômeno clínico relevante, altamente prevalente e ainda subestimado na prática oncológica. É o que revela um estudo prospectivo longitudinal publicado no periódico Clinical Imaging, que identificou ansiedade relacionada a exames de imagem clinicamente significativa em 71,2% dos pacientes oncológicos avaliados.
A ansiedade relacionada aos exames de imagem oncológicos é comum e pode prejudicar a qualidade de vida e a adesão à vigilância. No entanto, os dados sobre sua prevalência, gravidade, padrão temporal e preditores modificáveis ao longo das fases de exames de imagem de rotina permanecem limitados. Identificar preditores modificáveis, como qualidade da comunicação e tempos de espera, é essencial para o desenvolvimento de intervenções direcionadas.
Conduzida por pesquisadores da Peoples University of Medical and Health Sciences for Women, no Paquistão, este estudo longitudinal prospectivo incluiu 406 pacientes adultos com câncer submetidos a tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM) ou PET/TC de rotina em um centro terciário. Os participantes preencheram os questionários Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão – Ansiedade (HADS-A), escala de "Ansiedade-Estado" do Inventário de Ansiedade Traço-Estado (STAI-State) e Escala Analógica Visual de Ansiedade (SAA-VAS) antes, durante e após os exames. O estudo tambem aplicou a Avaliação Funcional da Terapia do Câncer-Geral (FACT-G), Escala de Impacto de Eventos – Revisada (IES-R) e um questionário que avaliou os tempos de espera, comunicação, informação e apoio social. Os dados foram analisados por meio de qui-quadrado, correlações de Pearson, testes t, regressão logística e ANOVA para medidas repetidas.
Entre 406 pacientes (idade média de 58,4 ± 12,7 anos, 57,6% do sexo feminino), 71,2% apresentaram ansiedade clinicamente significativa ao exame, com 60,1% apresentando HADS-A ≥ 8 e uma pontuação SAA-VAS média na fase de espera do resultado (7,1 ± 2,3).
A análise multivariada identificou o tempo de espera entre o exame e o resultado associado (OR 1,19 por dia; IC 95% 1,08–1,31), estágio avançado da doença (OR 1,78; IC 95% 1,08–2,93) e exames anteriores (OR 1,12 por exame; IC 95% 1,02–1,23) como fatores de risco significativos. Os fatores de proteção incluíram explicações sobre o procedimento (OR 0,46), simpatia da equipe (OR 0,82), fornecimento de informações (OR 0,52) e apoio social (OR 0,57).
Em síntese, os resultados mostram que a ansiedade pelo exame afetou mais de 70% dos pacientes e aumentou ao longo das fases do exame de imagem, atingindo o pico durante a espera pelo resultado. “A identificação de prevalência elevada e fatores modificáveis de scanxiety destaca a urgência de repensar protocolos assistenciais em oncologia. A criação de estratégias voltadas à humanização do atendimento, à melhoria da comunicação e à redução do tempo de espera entre o exame e o resultado pode não apenas melhorar a experiência do paciente, como impactar positivamente na adesão ao tratamento e nos desfechos clínicos”, concluem os pesquisadores.
Referência:
Mohammad Sibtain Shah, Jawad Ali Memon, Uzma Malik, Zubair Ali Memon, Mohammad Saleh Chandio. Prevalence, severity, and modifiable predictors of scanxiety in patients undergoing routine oncologic imaging: a prospective longitudinal study, Clinical Imaging, Volume 128, 2025, 110634, ISSN 0899-7071, https://doi.org/10.1016/j.clinimag.2025.110634.