Estudo que analisou barreiras e atitudes em relação ao rastreamento do câncer cervical entre mulheres elegíveis, em São Paulo, mostra que o fortalecimento dos sistemas de atenção primária à saúde com abordagens centradas no paciente pode melhorar a adesão ao rastreamento e reduzir as desigualdades. Medo de más notícias (41%) e vergonha aparecem entre as principais barreiras, assim como longos tempos de espera e atrasos na notificação dos resultados.
Neste estudo, 384 mulheres de 25 a 64 anos foram selecionadas por amostragem em 50 unidades básicas de saúde, de 17 departamentos regionais de saúde de São Paulo. As participantes classificaram barreiras e atitudes em relação ao rastreamento do câncer cervical; a análise considerou associações com fatores sociodemográficos, práticas de rastreamento e níveis de conhecimento.
Os resultados mostram predominantemente mulheres de baixa renda (40%; 82% sem plano de saúde privado), 87% relataram ter realizado o exame Papanicolau nos últimos cinco anos. Entre as principais barreiras pessoais e estruturais para o rastreamento do câncer cervical, os autores descrevem o medo de más notícias (41%), atrasos nos resultados dos exames (30%), longos tempos de espera (30%) e vergonha (29%). Foram encontradas associações significativas entre menor renda e atrasos na notificação dos resultados dos exames (p = 0,020) e longos tempos de espera (p = 0,012), assim como entre menor escolaridade e atrasos (p = 0,030) e vergonha (p = 0,007).
A análise revela que atitudes positivas em relação ao rastreamento ultrapassaram 95% e foram mais fortes entre as mulheres que compreenderam o papel do Papanicolau na detecção precoce (p = 0,026) e na melhora da sobrevida (p = 0,006).
“Embora a participação no rastreamento tenha sido alta, as persistentes disparidades socioeconômicas no acesso e as barreiras pessoais exigem intervenções direcionadas”, destacam os autores. “O fortalecimento dos sistemas de atenção primária à saúde com abordagens centradas no paciente pode melhorar a adesão ao rastreamento e reduzir as desigualdades”, analisam.
O trabalho tem como primeira autora a pesquisadora Carolina Terra de Moraes Luizaga, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), também pesquisadora da Fundação Oncocentro de São Paulo, além de Alice Barros Câmara (USP e Oncocentro), Lise Cristina Pereira Baltar Cury (Oncocentro), Rossana Veronica Mendoza Lopez (ICESP), Carlos Alberto Huaira Contreras (UFMG), Partha Basu (International Agency for Research On Cancer – IARC), Victor Wünsch-Filho (USP e Oncocentro) e André Lopes Carvalho (IARC).
Referência:
Luizaga, C.T., Câmara, A.B., Cury, L.C.P.B. et al. Barriers and attitudes toward cervical cancer screening among eligible women. Cancer Causes Control (2025). https://doi.org/10.1007/s10552-025-02058-4