Estudo que explorou associações entre a composição corporal e marcadores relacionados à gravidade da doença em mulheres jovens recém-diagnosticadas com câncer de mama sugere que a infiltração de tecido adiposo e gordura no músculo esquelético (ou seja, mioesteatose) está associada ao estágio avançado da doença (III-IV) e a subtipos moleculares específicos (luminal B, triplo negativo e superexpressão de ER2-HER2 +), mesmo quando a quantidade total de massa muscular permanece inalterada. O trabalho tem como primeiro autor o pesquisador Jarson P. Costa-Pereira (foto), do programa de Nutrição e Saúde Pública da Universidade Federal de Pernambuco.
Este estudo transversal foi realizado em duas unidades de oncologia. Os critérios de inclusão consideraram mulheres com idade entre 20 e 40 anos, recém-diagnosticadas com câncer de mama ductal invasivo (estágios I a IV), que haviam sido submetidas a tomografia computadorizada (TC) abdominal. Imagens de TC no nível da terceira vértebra lombar (L3) foram utilizadas para avaliar a composição corporal, incluindo a área transversal do músculo esquelético (cm²), a radiodensidade do músculo esquelético (SMD, HU), o tecido adiposo intermuscular (IMAT, cm²) e o tecido adiposo total com seus compartimentos visceral e subcutâneo.
Um total de 190 mulheres foram incluídas nesta análise (idade mediana: 35 anos, intervalo de quartis: 31 a 37), 69,5% foram diagnosticadas nos estágios III a IV. Os resultados mostram que pacientes nos estágios III a IV apresentaram frequência significativamente maior de mioesteatose, avaliada por IMAT elevado (P = 0,003). O IMAT mais elevado foi independentemente associado a maiores riscos de apresentar estágios III a IV (OR ajustado: 2,5, IC 95% 1,1 a 5,6). Resultados semelhantes foram encontrados ao avaliar subtipos moleculares de marcadores de gravidade da doença (ou seja, triplo negativo, luminal B e superexpressão de ER2-HER2+). Valores mais altos de SMD foram inversamente associados a luminal B e superexpressão de ER2-HER2+.
“Nossos achados demonstram a potencial importância da avaliação da mioesteatose em mulheres jovens recém-diagnosticadas com câncer de mama. A infiltração de tecido adiposo e gordura no músculo esquelético (ou seja, mioesteatose) pode ter implicações para a compreensão da gravidade da doença, mesmo quando a quantidade total de massa muscular permanece inalterada”, concluem os autores.
A análise mostra que a mioesteatose, refletida por IMAT mais alto e/ou SMD mais baixo, foi independentemente associada ao estágio avançado da doença (III-IV) e a subtipos moleculares específicos (luminal B, triplo negativo e superexpressão de ER2-HER2 +). Em contraste, outros compartimentos adiposos, como VAT, SAT e TAT, não apresentaram associações significativas. “Nossos achados potencialmente enfatizam o papel metabólico e endócrino distinto da mioesteatose na gravidade do câncer de mama”, destacam os autores. “Até onde sabemos, este é um dos primeiros estudos a aplicar métricas de composição corporal definidas por TC, incluindo IMAT e SMD, a uma população mais jovem com câncer de mama”.
Além de Jarson P. Costa-Pereira, o estudo conta com a participação dos pesquisadores Ingryd F. Macêdo, Giselle A. Barbosa, Glauber M. Leitão, Galtieri O. C. Medeiros, Ana L. Miranda, Gláucia M. C. Ferreira, Agnes D. L. Bezerra, Alcides S. Diniz, Ana Paula Trussardi Fayh e Sara M. M. L. Verde.
A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.
Referência:
Costa-Pereira, J.P., Macêdo, I.F., Barbosa, G.A. et al. Myosteatosis is associated with advanced TNM stage and tumor features in young females with breast cancer. BMC Cancer 25, 1576 (2025). https://doi.org/10.1186/s12885-025-15047-2