Pesquisadores europeus desenvolveram modelos para predizer o risco de eventos coronários agudos em mulheres que receberam radioterapia (RT) pós-operatória como parte do tratamento para câncer de mama. Os resultados estão no European Journal of Cancer, em artigo de Spoor et al, e contribuem para orientar estratégias de otimização da dose de RT e aprimorar a proteção radiológica.
Aproximadamente 85% das pacientes com câncer de mama têm indicação de radioterapia para melhorar o controle locorregional e a sobrevida, o que projeta a RT como pilar fundamental do tratamento. No entanto, apesar dos avanços nas técnicas de RT, Spoor e colegas lembram que a irradiação de linfonodos regionais – particularmente envolvendo os linfonodos mamários internos – ou anatomia desfavorável ainda podem levar à exposição cardíaca considerável. Para eventos coronarianos agudos (ECA), nenhum limite seguro de dose de radiação foi estabelecido e maiores volumes cardíacos irradiados podem piorar o prognóstico do ECA, ressaltando a necessidade de medidas preventivas.
Este estudo multicêntrico (NCT03211442) incluiu um conjunto de desenvolvimento (n = 4.305) e um conjunto externo (n = 1.503) de pacientes com câncer de mama tratadas com radioterapia (RT) pós-operatória (2005-2015). Os parâmetros do histograma dose-volume cardíaco (DVH) foram obtidos a partir do planejamento tridimensional baseado em tomografia computadorizada (TC). Modelos de regressão de Cox multivariáveis e específicos para causas previram a ocorrência de eventos coronários agudos (ECA), considerando o risco geral de mortalidade.
O modelo 1 considerou sete parâmetros clínicos: coração total (WH)-Dmédia e ventrículo esquerdo (LV)-V5. O modelo 2 substituiu WH-Dmédia e LV-V5 por parâmetros de DVH cardíacos, oferecendo maior valor prognóstico. O modelo 3 foi construído testando se a adição de parâmetros de DVH da artéria descendente anterior esquerda, volumes de cálcio da artéria coronária (CAC) ou parâmetros de DVH do CAC poderiam aprimorar o modelo de melhor desempenho. O valor incremental da adição de um parâmetro (ou da comparação de modelos) foi avaliado usando o teste da razão de verossimilhança (RV). Foi realizada avaliação exploratória do desempenho dos modelos em uma população externa.
Aos dez anos, os resultados mostram que a incidência cumulativa de ECA foi de 4,8% e 1,4% nos grupos de desenvolvimento e externo, respectivamente. O Modelo 2, que incluiu WH-D1, LE-V6 e ventrículo direito (VD)-V6, não superou o Modelo 1 (RV p = 0,422). “Consequentemente, buscou-se aprimorar ainda mais o modelo expandindo o Modelo 1 em vez do Modelo 2. O Modelo 3 resultante incorporou os parâmetros do Modelo 1 juntamente com o volume total de CAC, melhorando significativamente o desempenho preditivo (RV p < 0,001)”, descrevem os autores. Dez anos após a RT, cada modelo teve índices-c acima de 0,73 na validação interna, com o Modelo 3 apresentando o melhor desempenho (índice-c 0,78; IC 95%, 0,72-0,83).
Em síntese, um modelo incluindo sete parâmetros clínicos, WH-Dmédia, LV-V5 e volume total de CAC previu melhor o risco de ECA e pode orientar estratégias de otimização da dose de RT. Os modelos abordaram o risco competitivo de mortalidade geral, levando a estimativas de ECA mais precisas.
Esta pesquisa faz parte do projeto MEDIRAD-BRACE, apoiado pelo consórcio MEDIRAD, que visa aprimorar a proteção radiológica na área médica.
Referência:
Predicting Acute Coronary Events After Breast Cancer Radiotherapy: Integrating Baseline Cardiovascular Risk, Systemic Therapy, and Cardiac Radiation Dose in the MEDIRAD BRACE Study. Spoor, D. et al. European Journal of Cancer, Volume 0, Issue 0, 116055