A adesão à terapia endócrina é indispensável para atingir os objetivos clínicos e melhorar o prognóstico de pacientes com câncer de mama não metastático positivo para receptor de estrogênio. Estudo de mundo real que buscou avaliar a adesão à terapia endócrina (TE) em todo o Brasil mostra que a taxa de adesão ao tratamento foi de 58,7%, revelando que mais de um terço das pacientes não eram aderentes à TE no período avaliado. A pesquisa tem como primeira autora a oncologista Daniele Assad Suzuki (foto), do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, e está em acesso aberto no JCO Global Oncology.
Neste estudo, foram incluídas mulheres com carcinoma de mama invasivo ER+ não metastático submetidas à TE por pelo menos 6 meses. A adesão foi avaliada pela Escala de Adesão à Medicação de Morisky-8 (MMAS-8) e definida como uma pontuação de 8 na MMAS-8. Os grupos foram comparados pelos testes qui-quadrado ou qui-quadrado exato para variáveis qualitativas e pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney para variáveis quantitativas.
Os resultados relatados no JCO Global Oncology por Suzuki et al. mostram que, entre junho de 2021 e setembro de 2023, foram incluídos na base de análise 726 pacientes. A adesão à TE foi de 58,7%, demonstrando que mais de um terço das pacientes avaliadas não eram aderentes à terapia de reposição hormonal (TE).
Os autores descrevem que a mediana de idade das mulheres aderentes foi maior do que a das mulheres não aderentes (58,3 anos vs. 54,8 anos; P = 0,009). A análise também mostra que os fatores associados à adesão foram a não utilização de supressão ovariana (P = 0,004), o uso de terapia anti-HER2 (P = 0,007), pontuações elevadas no Questionário de Qualidade de Vida C30 da Organização Europeia para Pesquisa e Tratamento do Câncer (EORTC) em relação ao estado geral de saúde (P = 0,0004), desempenho funcional (P = 0,03), funcionamento emocional (P = 0,0007), funcionamento cognitivo (P < 0,001) e funcionamento social (P = 0,0005), e pontuações no EORTC BR23 em relação à imagem corporal (P < 0,001) e perspectiva futura (P = 0,0198).
Em síntese, esses resultados indicam que a taxa de adesão à terapia endócrina foi de 58,7% entre junho de 2021 e setembro de 2023, demonstrando a necessidade de estratégias capazes de aumentar a adesão à TE. A análise também mostra que a mediana de idade das mulheres aderentes foi maior do que a das mulheres não aderentes.
“Esses achados destacam a necessidade de medidas para aumentar a adesão à terapia endócrina, como campanhas educativas, programas para melhorar o gerenciamento de efeitos colaterais e a implementação de enfermeiros navegadores em oncologia”, destaca a análise.
A OMS define adesão como a medida em que o comportamento de uma pessoa (incluindo o uso de medicamentos) corresponde às recomendações acordadas por um profissional de saúde. Essa definição inclui o início do tratamento prescrito e a descontinuação da farmacoterapia.
Além de Daniele Assad Suzuki, também pesquisadora do GBECAM, o estudo tem a participação de Danielle Laperche-Santos (Hemolabor, Goiânia), Heloisa Resende (Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA), Fernanda Cesar Moura, (Hospital Sírio-Libanês e Instituto Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília), Sulene Cunha Sousa Oliveira e Monalisa Ceciliana Freitas Moreira de Andrade (Liga Norte Riograndense contra o Câncer, Natal), Andrea Kazumi Shimada e Yuri Cardoso Rodrigues Beckedorff Bittencourt (Hospital Sirio Libanês - São Paulo), Renata Arakelian (Hospital da Mulher SP, DASA), Anna Luiza Zapalowski Galvão (Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora), Bruno Santos Wance de Souza (Hospital Brasília, Rede Américas), Amanda Guimarães Castro Custódio (Hospital Sírio-Libanês, Brasília), Maria Cristina Figueroa Magalhães (Hospital universitário Evangélico Mackenzie, Curitiba), Cristiano de Pádua Souza e Carlos Eduardo Paiva (Hospital de Câncer de Barretos), Poliana Albuquerque Signorini (Centro Integrado de Pesquisa da Amazônia - CINPAM, Manaus), Daniela Jessica Pereira (Oncocentro, Grupo Oncoclínicas Belo Horizonte), Angélica Nogueira-Rodrigues (Oncocentro e Universidade Federal de Minas Gerais), Daniela Dornelles Rosa (Hospital Moinhos de Vento e Hospital de Clínicas de Porto Alegre), e Romualdo Barroso-Sousa (Hospital Brasília, Rede Américas).
Referência:
Daniele Assad-Suzuki et al. Adherence to Adjuvant Endocrine Therapy in Patients With Nonmetastatic Estrogen Receptor–Positive Breast Cancer: A Comprehensive Brazilian Real-World Data Study. JCO Glob Oncol 11, e2400351(2025). DOI:10.1200/GO-24-00351