Onconews - Radioterapia torácica de alta dose versus dose padrão aumenta sobrevida no CPPC em estágio limitado

A radioterapia torácica (RTT) de 60 Gy/40 frações, duas vezes ao dia, foi bem tolerada e prolongou a sobrevida em comparação com a RTT estabelecida de 45 Gy/30 frações em pacientes com câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) em estágio limitado. É o que mostram resultados de Grønberg et al. no Journal of Thoracic Oncology no primeiro ensaio clínico randomizado a demonstrar benefício de sobrevida com o aumento da dose de RTT nessa população de pacientes.  A sobrevida global mediana no grupo de 60 Gy foi quase duas vezes maior do que no grupo de 45 Gy (43,5 vs. 22,5 meses), com aumento clinicamente relevante na taxa de sobrevida em 5 anos, de 28,4% para 39,4%.

A quimiorradioterapia é o tratamento padrão para o câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) em estágio limitado (LS, nas iniciais em inglês). Neste estudo randomizado de fase II, o objetivo foi avaliar se a radioterapia torácica duas vezes ao dia, com 60 Gy/40 frações, melhora a sobrevida em comparação com o esquema estabelecido de 45 Gy/30 frações.

Foram incluídos pacientes com bom status de desempenho (ECOG 0-2), idade ≥18 anos, submetidos a FDG-PET/CT e RNM cerebral para estadiamento. Os pacientes elegíveis foram randomizados 1:1 para RTT de 60 ou 45 Gy. Os pacientes elegíveis receberam quatro ciclos de quimioterapia com platina/etoposídeo e os respondedores receberam irradiação craniana profilática.

170 pacientes foram randomizados (60 Gy: n=89, 45 Gy: n=81). A idade mediana foi de 65 anos, 31% ≥70 anos, 57% mulheres, 89% tinham PS 0-1, 83% com doença em estágio III, o volume alvo de planejamento mediano foi de 305 cm³ e 67% foram tratados com radioterapia conformada tridimensional (TRC 3D).

Os resultados relatados no JTO mostram que a sobrevida global mediana no grupo de 60 Gy foi significativamente maior (43,5 vs. 22,5 meses, HR 0,68, IC 95% 0,48-0,98, p = 0,037). A análise de segurança revela que o grupo de 60 Gy não apresentou mais esofagite aguda de grau 3-4 (60 Gy: 21%, 45 Gy: 18%, p = 0,83) ou pneumonite (60 Gy: 3%, 45 Gy: 0%, p = 0,39). Dois pacientes, ambos no grupo de 60 Gy, desenvolveram estenoses esofágicas, enquanto onze pacientes (60 Gy: n=5, 45 Gy: n=6) desenvolveram disfunção alimentar e de deglutição grave de longo prazo.

“A RTT de 60 Gy/40 frações, duas vezes ao dia, foi bem tolerada e prolongou a sobrevida em comparação com a de 45 Gy/30 frações em pacientes com CPPC LS”, concluem os autores.

A quimioterapia com platina/etoposídeo concomitante a radioterapia torácica seguida de irradiação craniana profilática (ICP) para aqueles que respondem à quimiorradioterapia tem sido o tratamento padrão para CPPC LS desde a década de 1990. A RTT de 45 Gy em 30 frações, duas vezes ao dia, tem sido recomendada desde que os estudos do Intergroup 0096 demonstraram superioridade em comparação com a RTT de 45 Gy em 25 frações, uma vez ao dia, mas estudos populacionais mostram que a maioria dos pacientes ainda recebe RTT uma vez ao dia por preocupações com esofagite e desafios logísticos.

Estas análises finais de eficácia confirmam que a RTT de 60 Gy em 40 frações, duas vezes ao dia, foi superior ao esquema estabelecido e não causou toxicidade mais aguda ou tardia. Este foi o primeiro ensaio clínico randomizado a demonstrar benefício na sobrevida com o aumento da dose de RTT em pacientes com CPPC com LS.

Referência:

Grønberg BH, Killingberg KT, Fløtten Ø, Bjaanæs MM, Brustugun OT, Madebo T, Langer SW, Risumlund SL, Schytte T, Helbekkmo N, Neumann K, Yksnøy Ø, Engleson J, Fluge S, Naustdal T, Giske LE, Nyman J, Tsakonas G, Halvorsen TO, High-dose versus standard dose twice-daily thoracic radiotherapy in limited stage small-cell lung cancer: final survival data, long-term toxicity and relapse patterns in a randomised, open-label, phase II trial, Journal of Thoracic Oncology (2025), doi: https://doi.org/10.1016/j.jtho.2025.04.007