Onconews - Pesquisa analisa ingestão de dióxido de titânio como excipiente em medicamentos e risco de câncer

Preocupações sobre a segurança do dióxido de titânio (TiO2), incluindo potencial carcinogenicidade, levaram à sua proibição em alimentos na União Europeia, embora permaneça permitido como excipiente farmacêutico. Estudo francês publicado no European Journal of Epidemiology é o primeiro estudo epidemiológico sobre a ingestão de comprimidos contendo TiO2 e risco de câncer, com achados sugerindo associação positiva não linear para cânceres do sistema nervoso central.

Neste estudo caso-controle, os pesquisadores descrevem que o dióxido de titânio (TiO2) de grau alimentício é amplamente utilizado como excipiente farmacêutico por sua capacidade de aumentar a brancura e a opacidade, melhorar o contraste com corantes e proteger ingredientes ativos fotossensíveis da degradação pela luz.  Agnès Fournier e colegas lembram que 57% das especialidades farmacêuticas orais no mercado francês em 2020 continham TiO2.

A partir de informações do Sistema Nacional de Dados de Saúde Francês, os pesquisadores buscaram avaliar se a ingestão de quantidades crescentes de TiO2 por meio de medicamentos está associada a maior risco de câncer.

O estudo de caso-controle considerou duas coortes: usuários de metformina (todas as doses) e usuários de 200 mg de acebutolol, ambos disponíveis em formulações contendo TiO2 e sem TiO2. No período de 2013-2021, foram identificados 293.101 casos de câncer, que foram pareados a 2.930.633 controles. A exposição ao TiO2 por meio do consumo de metformina e acebutolol foi calculada e modelos de regressão logística condicional estimaram associações lineares entre a exposição ao TiO2 e o risco de câncer.

Os resultados mostram que os RRs de câncer geral por 1000 comprimidos contendo TiO2 e por 10.000 mg de incrementos de TiO2 foram ambos 1,00 (IC 95%: 0,99-1,01). Os autores descrevem que as análises por local do câncer também produziram RRs muito próximos de 1,00 ou ligeiramente diferentes, mas não estatisticamente significativos, exceto para cânceres de mama (RR por 10.000 mg: 1,03, IC 95%: 1,00-1,07) e linfoide/hematopoiético (RR por 1000 comprimidos: 0,97, IC 95%: 0,95-1,00), que, no entanto, perderam significância após a correção de Bonferroni. A análise sugere associação positiva não linear para cânceres do sistema nervoso central.

“Este primeiro estudo epidemiológico sobre ingestão de TiO2 e câncer não encontrou associação linear significativa entre o aumento da exposição ao TiO2 por meio de medicamentos e o risco geral ou específico de câncer. Associações não lineares não podem ser excluídas”, destacam os autores.

Estudo descritivo nacional realizado na França em 2024 sugere que a exposição ao TiO2 proveniente de produtos farmacêuticos é menor do que a exposição alimentar em adultos de 20 a 59 anos, mas pode atingir níveis comparáveis ​​em indivíduos mais velhos.

Referência:

Cairat M, Severi G, Huybrechts I, Fournier A. Ingestion of titanium dioxide as an excipient in medicines and the risk of cancer: a nationwide study within the French National health data system. Eur J Epidemiol. 2025 Jul 2. doi: 10.1007/s10654-025-01263-4. Epub ahead of print. PMID: 40601245.