Estudo norte-americano oferece novas evidências sobre como a trajetória da qualidade de vida relacionada à saúde evolui antes e após o diagnóstico de câncer de mama em mulheres idosas. Os resultados mostram que a percepção de saúde e as limitações funcionais prévias exercem mais influência sobre esses desfechos do que os próprios tratamentos oncológicos recebidos. O estudo foi publicado no periódico Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention.
Nesse estudo, os pesquisadores analisaram os preditores de mudança na qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes idosas com câncer de mama em duas transições: do pré ao pós-diagnóstico e no momento do diagnóstico versus 2 anos depois.
Utilizando a vinculação dos dados do programa Surveillance, Epidemiology, and End Results (SEER) com o Medicare Health Outcomes Survey (MHOS), foram analisadas pacientes com câncer de mama com mais de 65 anos que responderam a dois questionários de QVRS. Foram examinadas duas coortes: pacientes que responderam aos questionários antes e até 1 ano após o diagnóstico (coorte 1) e aquelas que responderam aos questionários dentro de 1 ano do diagnóstico e 2 anos após o diagnóstico (coorte 2). A regressão Bayesiana identificou preditores de alterações nos escores do componente físico (PCS) e do componente mental (MCS).
Na coorte 1 (n = 1.546), o estágio avançado da doença foi associado a um maior declínio na qualidade de vida relacionada à saúde, com alterações médias no escore do componente físico variando de -2,1 a -6,5 e no escore do componente mental de -2,0 a -5,1. Limitações nas atividades da vida diária (AVD) basais foram associadas a declínios médios no escore de componente físico variando de -2,0 a -2,6 e a um declínio médio no escore de componente mental de -2,0.
Uma melhor percepção de saúde basal foi um fator protetor, com aumentos médios no PCS variando de +1,4 a +3,4. Na coorte 2 (n = 891), as limitações nas atividades da vida diária basais foram associadas a declínios médios no escore físico (PCS) variando de -1,6 a -5,5 e a um declínio médio no escore mental (MCS) de -2,5, enquanto a percepção de saúde ruim foi associada a um declínio médio no PCS de -3,2. A percepção de saúde excelente foi protetora (MCS médio: +4,1).
“Cirurgia, quimioterapia e radioterapia não apresentaram impacto significativo na trajetória de qualidade de vida relacionada à saúde ao longo do tempo, sugerindo que os fatores basais — e não o tratamento — são determinantes centrais da evolução da qualidade de vida”, destacam os autores.
Em síntese, os resultados apontam para a importância de avaliações abrangentes antes do início do tratamento, incluindo funções físicas, capacidade para atividades diárias e percepção subjetiva de saúde. Essas variáveis têm forte poder preditivo e podem orientar intervenções precoces para evitar declínio de longo prazo.
“Para uma população envelhecida, que hoje representa parcela expressiva das pacientes com câncer de mama, o estudo reforça que estratégias personalizadas de manejo, voltadas ao fortalecimento funcional e ao suporte psicossocial, podem melhorar significativamente a experiência de sobrevivência”, avaliam os autores. “Integrar triagens sistemáticas de função e percepção de saúde na rotina assistencial pode não apenas apoiar decisões terapêuticas mais individualizadas, mas também ajudar a planejar programas de reabilitação e suporte que minimizem perdas de qualidade de vida ao longo do cuidado”, concluem.
Referência:
Mohamad El Moheb, Chengli Shen, Emily Rabinovich, Susan Kim, Carolyn Tsung, Kaelyn C. Cummins, Russell G. Witt, David R. Brenin, Shayna L. Showalter, Allan Tsung; Predicting Health-Related Quality of Life Trajectories in Elderly Patients with Breast Cancer: From Prediagnosis to Long-term Follow-up. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 2025; https://doi.org/10.1158/1055-9965.EPI-25-0148