Onconews - Metanálise conclui que radioterapia moderadamente hipofracionada isodose deve ser padrão no câncer de próstata

Pesquisa que comparou os perfis de eficácia e toxicidade da radioterapia moderadamente hipofracionada (MHFRT) isodose e da MHFRT dose-escalonada em estudos randomizados do Consórcio MARCAP mostra que MHFRT com dose escalonada foi associada a maior toxicidade intestinal e conclui que regimes de isodose devem ser o padrão de MHFRT para câncer de próstata localizado.

Ensaios clínicos comparando radioterapia moderadamente hipofracionada (MHFRT) com radioterapia convencionalmente fracionada (CFRT) para câncer de próstata variaram consideravelmente em intenção (não inferioridade vs. superioridade) e dose de MHFRT.

Neste estudo multicêntrico, os pesquisadores realizaram meta-análise de dados individuais de pacientes de ensaios clínicos randomizados de fase 3 comparando CFRT versus MHFRT, com dados disponíveis de eficácia e toxicidade tardia. A busca na literatura considerou as principais bases de dados (MEDLINE, Embase, registros de ensaios clínicos, Web of Science, Scopus e anais de conferências relevantes) realizada inicialmente em 15 de dezembro de 2023 e refeita em 8 de janeiro de 2025. Os autores descrevem que foram excluídos ensaios clínicos que não publicaram dados de eficácia, não publicaram dados de toxicidade tardia ou não utilizaram radioterapia de dose moderna (≥ 70 Gy em equivalentes de 2 Gy) no grupo CFRT.

Dados individuais dos pacientes foram fornecidos ao MARCAP pelos pesquisadores do estudo. Três metanálises separadas foram elaboradas para comparar a eficácia (o desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão), a toxicidade tardia avaliada pelo médico (os desfechos co-primários foram efeitos tóxicos geniturinários tardios de grau 2 ou superior e gastrointestinais tardios de grau 2 ou superior) e os desfechos relatados pelos pacientes (os desfechos co-primários foram reduções clinicamente significativas na qualidade de vida urinária ou intestinal relatadas pelos pacientes) entre pacientes que receberam CFRT versus MHFRT.

A base de análise compreendeu sete estudos de fase 3, considerando 3.454 pacientes de três estudos comparando CFRT com MHFRT isodose e 2.426 pacientes de quatro estudos comparando CFRT com TRMF de dose escalonada. Em um acompanhamento mediano de 5,4 anos (IQR 4,6–7,2) para MHFRT isodose e 7,1 anos (5,7–8,4) para MHFRT dose-escalonada, os resultados relatados no Lancet Oncology por Kishan et al.  mostram que nenhuma diferença na sobrevida livre de progressão foi detectada (razão de risco 0,92, IC 95% 0,81–1,05; p=0,21 e 0,94, 0,82–1,09; p=0,43 respectivamente).

A análise revela que em termos de efeitos tóxicos geniturinários de grau 2 ou superior não foram observadas diferenças entre MHFRT isodose (odds ratio [OR] 1,16, IC 95% 0,86–1,57; p=0,32) ou MHFRT dose-escalonada (1,20, 0,95–1,51; p=0,13). No entanto, efeitos tóxicos gastrointestinais de grau 2 ou superior foram significativamente maiores com o escalonamento de dose (OR 1,48, IC 95% 1,14–1,92; p=0,0035), mas não com MHFRT isodose (1,30, 0,59–2,87; p=0,51). O tratamento com MHFRT isodose não mostrou diferenças na redução da qualidade de vida urinária (OR 1,03, IC 95% 0,51–2,09; p=0,93) ou intestinal (0,76, 0,40–1,43; p=0,39). A MHFRT com dose escalonada foi associada a maior probabilidade de reduzir a qualidade de vida intestinal (OR 1,68, IC 95% 1,07–2,61; p=0,023), mas não de reduzir a qualidade de vida urinária (1,57, 0,87–2,85; p=0,13).

Em síntese, a MHFRT com isodose e a MHFRT com dose escalonada apresentam eficácia semelhante à CFRT, mas a MHFRT com dose escalonada está associada a maior toxicidade intestinal, avaliada pelo médico e relatada pelo paciente. “Regimes de isodose, por exemplo, 60 Gy em 20 frações, devem ser o regime padrão de MHFRT para câncer de próstata localizado”, destacam os autores.

Referência:

Hypofractionated radiotherapy for prostate cancer (HYDRA): an individual patient data meta-analysis of randomised trials in the MARCAP consortium - Kishan, Amar U et al. The Lancet Oncology, Volume 26, Issue 4, 459 – 469