O Grupo de Trabalho de Oncologia de Precisão da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO, da sigla em inglês) desenvolveu uma série de recomendações para contribuir com a estruturação de comitês moleculares de tumores na prática clínica. O Painel de Especialistas também definiu uma lista de potenciais indicadores de qualidade para facilitar a avaliação dos comitês moleculares em operação. O trabalho foi publicado no Annals of Oncology, em artigo com participação dos oncologistas brasileiros Felipe Roitberg (na foto, à direita) e Rodrigo Dienstmann.
Com o papel crescente do perfil genômico na prática clínica e a maior complexidade das modalidades diagnósticas, grandes quantidades de dados complexos precisam ser adequadamente interpretadas e integradas a um plano de tratamento individualizado. Para enfrentar esses desafios, os comitês moleculares de tumores (CMTs) foram amplamente estabelecidos. No entanto, até o momento, não foram definidas recomendações internacionais que regulem a composição e os fluxos de trabalho desses comitês”, contextualizam os autores.
Para o desenvolvimento das recomendações, o Grupo de Trabalho de Oncologia de Precisão da ESMO estabeleceu um painel internacional de especialistas em oncologia de precisão e definiu as principais áreas de interesse. Após diversas consultas e por meio de um processo de consenso entre especialistas, o grupo estabeleceu um nível de consenso para cada recomendação.
Foram definidos cinco componentes no processo de comitês moleculares de tumores que são essenciais para sua função e uso clínico. Primeiro, os especialistas definiram (i) que a principal tarefa dos CMTs é fornecer recomendações clínicas com base genômica, particularmente para casos que apresentam alterações genômicas complexas. Para atingir esse objetivo, (ii) os comitês devem abranger expertise interdisciplinar, com papéis-chave para oncologistas com experiência em genômica, patologistas com treinamento molecular e geneticistas clínicos. Os autores também destacam que (iii) as recomendações dos CMTs devem ser documentadas em um relatório estruturado que inclua estratégias de tratamento com base genômica, planos de manejo para potenciais alterações da linha germinativa detectadas em tumores e orientações para testes genômicos adicionais; e ressaltam a importância (iv) da implementação de processos estruturados de acompanhamento para monitorar a eficácia clínica das recomendações dos CMTs. “Nosso grupo de trabalho também propõe (v) indicadores de qualidade para os comitês em operação, incluindo os tempos de resposta para discussão de casos e a proporção de casos para os quais recomendações acionáveis e inscrições para ensaios clínicos foram implementadas com sucesso”, afirmam os autores.
Em síntese, estas recomendações do Grupo de Trabalho de Oncologia de Precisão da ESMO podem servir como orientação e ajudar a definir padrões de qualidade para os comitês moleculares, agilizando ainda mais a integração da oncologia de precisão na prática clínica. “As recomendações devem ser adequadamente adaptadas de acordo com os recursos locais, a legislação e o volume do centro”, observam.
Referência:
ESMO Precision Oncology Working Group recommendations on the structure and quality indicators for molecular tumour boards in clinical practice. Westphalen, C.B. et al. Annals of Oncology, Volume 0, Issue 0