Meta-análise publicada no European Journal of Cancer Prevention lança luz sobre a associação entre exposição ao tabagismo passivo e o risco de câncer de cabeça e pescoço (CCP). A análise, que reuniu dados de 17 estudos e mais de mil registros científicos, identificou uma correlação significativa entre a exposição à fumaça ambiental do tabaco e o aumento do risco de vários subtipos de CCP, com destaque para os tumores de orofaringe, oral, laringe e hipofaringe.
Estudos sobre a associação entre tabagismo passivo e câncer de cabeça e pescoço (CCP) são controversos. Esta metanálise teve como objetivo explorar essa associação. Os autores realizaram uma busca sistemática nas bases de dados PubMed, Embase, Web of Science e Cochrane Library até julho de 2024 para identificar estudos relevantes.
O estudo utilizou modelo de efeitos aleatórios para integrar os dados e avaliar o risco relativo de desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço entre indivíduos expostos ao tabagismo passivo.
Foram identificados 1.036 registros, dos quais 17 estudos foram incluídos. O tabagismo passivo foi significativamente associado a um aumento de 70% no risco geral de câncer de cabeça e pescoço entre os expostos (OR = 1,70; IC 95%: 1,27–2,28; P < 0,001).
A associação foi particularmente forte para câncer oral (OR = 1,85, IC 95%: 1,07–3,17, P = 0,026), câncer de orofaringe (OR = 2,78, IC 95%: 1,29–5,98, P = 0,009), câncer de laringe (OR = 1,60, IC 95%: 1,24–2,06, P < 0,001) e câncer de hipofaringe (OR = 2,60, IC 95%: 1,45–4,66, P = 0,001).
Não foi observada associação significativa para carcinoma de nasofaringe (OR = 1,14, IC 95%: 0,78–1,66, P = 0,498). Os resultados também revelaram que o risco foi elevado entre as populações asiáticas e europeias.
Os dados reforçam o alerta sobre os impactos da exposição involuntária à fumaça do cigarro — especialmente em contextos familiares ou ambientes fechados — e ampliam a discussão sobre prevenção oncológica e políticas de controle do tabagismo. “Embora os efeitos do tabagismo ativo na carcinogênese de cabeça e pescoço estejam bem documentados, esta análise sistemática e meta-análise reforça que mesmo a exposição indireta ao cigarro representa um risco oncológico relevante”, ressaltam os autores, reforçando a relevância da formulação de políticas públicas mais rigorosas sobre tabagismo passivo, especialmente em locais de convívio coletivo e em domicílios com crianças e idosos.
“Os achados reforçam o papel do tabagismo passivo como fator de risco para cânceres de cabeça e pescoço, com destaque para orofaringe, hipofaringe, laringe e cavidade oral. A exposição à fumaça do cigarro, mesmo de forma passiva, deve ser considerada na anamnese oncológica e nos programas de prevenção do câncer. A proteção contra a exposição ambiental ao tabaco emerge, mais uma vez, como medida essencial de saúde pública”, concluem.
Referência:
Xu, Feia; Mu, Nana; Song, Yangb; Ma, Meilia. Passive smoking and risk of head and neck cancer: a systematic review and meta-analysis. European Journal of Cancer Prevention 34(5):p 415-425, September 2025. | DOI: 10.1097/CEJ.0000000000000930