Jovens adultos sobreviventes de câncer nos EUA, com idades entre 18 e 39 anos, enfrentam riscos sociais elevados em comparação com seus pares sem histórico de câncer e sobreviventes de coortes etárias mais avançadas. É o que demonstra estudo apresentado na 18ª Conferência da AACR sobre a Ciência das Disparidades na Saúde do Câncer, realizada de 18 a 21 de setembro de 2025.
“Existem atualmente mais de 18 milhões de sobreviventes de câncer nos Estados Unidos, muitos vivendo uma década ou mais após o diagnóstico. Embora a sobrevivência seja uma história de sucesso, um diagnóstico de câncer pode aumentar a vulnerabilidade a riscos sociais, como insegurança alimentar, habitacional e de transporte”, disse a apresentadora do estudo, Ami E. Sedani, professora assistente de epidemiologia na Escola de Saúde Pública da UTHealth Houston, em Dallas.
Sedani enfocou diferentes aspectos explorando como os sobreviventes de câncer vivenciam os riscos sociais: insegurança relacionada à alimentação, moradia, serviços públicos, emprego e transporte; dificuldade para pagar por cuidados de saúde, assim como desafios psicossociais, incluindo insatisfação com a vida, falta de apoio social/emocional e isolamento social. "Para promover a igualdade no acesso aos cuidados de saúde, precisamos mensurar sistematicamente esses fatores sociais da saúde", afirmou.
O estudo investigou os riscos sociais em sobreviventes de câncer de diferentes faixas etárias, que foram então comparados com os riscos sociais da população em geral, incluindo aqueles sem diagnóstico de câncer. Utilizando dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco Comportamentais (BRFSS) para os anos de 2022-2023, Sedani e colegas estudaram os fatores de risco social em 472.531 adultos norte-americanos que tinham (8,7%) ou não diagnóstico de câncer autorrelatado e os estratificaram em três coortes etárias: 18-39, 40-64 e 65 anos ou mais. Para jovens adultos, eles também analisaram a origem racial e étnica, o sexo e se os participantes do BRFSS viviam em um estado com expansão do Medicaid.
Os pesquisadores identificaram que o risco social para sobreviventes de câncer teve maior impacto sobre os jovens adultos. "Como sobreviver ao câncer envolve muitos fatores estressantes, seria de se esperar que todos os sobreviventes de câncer, independentemente da idade, pudessem experimentar maiores riscos sociais do que pessoas sem histórico de câncer. Em vez disso, descobrimos que os riscos sociais elevados para sobreviventes de câncer se concentraram em jovens adultos, mas desapareceram na meia-idade. De fato, para a coorte de idade mais avançada, pessoas sem histórico de câncer tiveram probabilidade ligeiramente maior de experimentar riscos sociais do que sobreviventes de câncer na mesma faixa etária", disse Sedani.
Entre aqueles com idade entre 18 e 39 anos, os sobreviventes de câncer experimentaram riscos sociais com mais frequência do que aqueles sem histórico de câncer. Em comparação com seus pares aparentemente saudáveis, os jovens adultos sobreviventes relataram prevalência de insegurança habitacional 9,4 pontos percentuais maior e prevalência de insegurança alimentar 7,2 pontos percentuais maior. Sedani observou que jovens adultos sobreviventes de câncer pertencentes a grupos raciais e étnicos minoritários apresentaram a maior prevalência de cada fator de risco social quando comparados a seus pares brancos não hispânicos.
Essa distribuição de riscos sociais associada à idade, de acordo com a pesquisadora, reflete lacunas mais amplas para adultos mais jovens nas redes de segurança social nos EUA. "Desafios como dificuldades financeiras decorrentes de custos de moradia e creche, emprego precário, seguro saúde limitado e dificuldade para navegar em sistemas de saúde complexos podem contribuir para essas disparidades", disse ela, observando que o status de expansão do Medicaid pode desempenhar papel relevante. Sedani destacou a descoberta de que jovens adultos sobreviventes em estados sem expansão do Medicaid enfrentaram níveis mais elevados de insegurança alimentar, habitacional e de serviços públicos em comparação com a população em geral.
"Os resultados destacam a importância de considerar a idade ao examinar as disparidades de sobrevivência e apontam para o valor potencial de políticas e programas que fortaleçam o apoio social e econômico para jovens adultos sobreviventes de câncer para promover resultados de saúde mais equitativos", disse ela.