As oncologistas Luciana de Moura Leite, do AC Camargo Cancer Center, e Luiza Nardin Weis (foto), da Dasa Oncologia, são coautoras de estudo multicêntrico internacional que buscou avaliar o conhecimento, a prática e as atitudes dos médicos sobre questões relacionadas à fertilidade e à gravidez em pacientes jovens (≤ 40 anos) com câncer de mama avançado. Os resultados publicados na The Breast despertam preocupação, revelando que de 10% a 20% dos médicos prescrevem tratamentos contraindicados a essas pacientes durante a gravidez e que cerca de 20% não prescrevem rotineiramente métodos contraceptivos.
Os pesquisadores desenvolveram um questionário com 26 itens, que foi aplicado por e-mail em dezembro de 2023 a médicos que participaram da conferência de consenso ABC6, realizada virtualmente, em novembro de 2021. O questionário também foi enviado a médicos inscritos na conferência de consenso ABC7 (Lisboa, novembro de 2023). Os autores explicam que o questionário considerou 3 seções principais: 1) informações demográficas, de formação médica e antecedentes; 2) conhecimento, prática e atitudes dos médicos em relação à preservação da fertilidade e questões relacionadas à gravidez em pacientes com câncer de mama avançado; 3) abordagem de casos clínicos hipotéticos.
Os resultados mostram que 133 médicos responderam à pesquisa. “A maioria relatou discutir sempre (40,6%) ou geralmente (36,1%) a possível perda da função ovariana relacionada ao tratamento em pacientes com câncer de mama avançado. Em relação à preservação da fertilidade e questões relacionadas à gravidez, 23,3% sempre se sentiriam à vontade para discutir esses tópicos com as pacientes, enquanto 45,9% se sentiriam à vontade dependendo da situação clínica. 20,3% relataram não prescrever nenhum tipo de contracepção e 10-20% prescreveriam tratamentos contraindicados durante a gravidez.
“Nossa pesquisa mostrou que existem muitas preocupações ao discutir e lidar com questões relacionadas à fertilidade e à gravidez em pacientes com câncer de mama avançado”, concluem os autores, destacando a necessidade de aumentar a conscientização dos médicos sobre questões relacionadas à fertilidade e à gravidez nessa população de pacientes. O tema assume relevância ainda maior à medida que os tratamentos oncológicos continuam a melhorar, resultando em maior sobrevida e, em alguns casos, potenciais curas.
De acordo com as diretrizes atuais, todas as pacientes com câncer diagnosticado em idade reprodutiva devem receber aconselhamento abrangente sobre oncofertilidade o mais cedo possível após o diagnóstico, independentemente do tipo e estágio da doença.
O câncer de mama é o principal contribuinte para a carga de câncer em mulheres jovens, com incidência crescente entre mulheres com menos de 40-50 anos.
Referência:
Physicians’ knowledge, practice, and attitudes on fertility and pregnancy-related issues in young women with advanced breast cancer: results of the ABC6 and ABC7 survey. Nardin, Simone et al. The Breast, Volume 0, Issue 0, 104479
