A capacidade de idosos permanecerem vivos e em casa após a cirurgia oncológica pode ser estimada com um modelo preditivo? Estudo prognóstico publicado no JAMA Surgery revela que a ferramenta prognóstica STAYHOME, que utilizou informações disponíveis no pré-operatório para prever o risco de não permanecer em casa após a cirurgia oncológica em idosos, apresentou boa discriminação e foi bem calibrado.
A tomada de decisão compartilhada com idosos em relação à cirurgia oncológica é fundamental. Ferramentas de prognóstico que relatam estimativas de risco individualizadas de desfechos centrados no paciente podem facilitar as discussões.
Esse estudo buscou desenvolver e validar internamente um modelo de predição de risco, STAYHOME, para estimar o risco de perda da capacidade de viver em casa em idosos após cirurgia oncológica.
Este estudo prognóstico retrospectivo de base populacional realizado em Ontário, Canadá, incluiu adultos com 70 anos ou mais submetidos a cirurgia oncológica no período de 2007 a 2019. Os dados foram analisados de junho de 2023 a janeiro de 2024. As variáveis preditoras foram selecionadas entre as informações disponíveis no pré-operatório, e o modelo preditivo incluiu idade, sexo, residência rural, diagnóstico prévio de câncer, tipo de cirurgia, fragilidade, uso de cuidados domiciliares no pré-operatório, terapia neoadjuvante, local do câncer e estágio da doença.
O principal desfecho foi a incapacidade de permanecer em casa, definida como admissão em casa de repouso. Foram utilizados modelos Fine-Gray que consideram o risco competitivo de morte. Discriminação e calibração foram avaliadas, e foi realizada a validação Bootstrap usando 1000 amostras com reposição.
Entre 97.353 pacientes (idade mediana [IQR], 76 [73-81] anos; 61.370 mulheres [63,0%]), houve 2.658 eventos (2,7%) em 6 meses e 3.746 eventos (3,8%) em 12 meses. O risco médio previsto de não permanecer em casa foi de 2,4% em 6 meses e 3,4% em 12 meses.
As áreas sob a curva foram de 0,76 e 0,75 para as previsões de 6 e 12 meses, respectivamente. O desvio do risco observado de não permanecer em casa foi de 0,33% (IC 95%, 0,31%-0,34%) para as previsões de 6 meses e de 0,46% (IC 95%, 0,44%-0,48%) para as previsões de 12 meses. A calibração foi mantida em todos os decis de risco.
Em síntese, os resultados mostram que o STAYHOME apresentou boa discriminação e foi bem calibrado. “Estimativas de risco individualizadas do STAYHOME podem auxiliar no aconselhamento, na tomada de decisão compartilhada e no estabelecimento de expectativas antes da cirurgia”, concluem os autores.
Referência:
Hallet J, Mahar AL, Chan WC, et al. A Predictive Tool for Ability to Remain at Home After Cancer Surgery in Older Adults. JAMA Surg. Published online June 25, 2025. doi:10.1001/jamasurg.2025.1888