Onconews - Estudo revela papel do status menopausal na relação entre sedentarismo e risco de câncer de mama

Estudo de coorte com mais de 39 mil mulheres traz evidências robustas de que o tempo de sedentarismo pode influenciar o risco de câncer de mama — mas de maneira distinta conforme o status menopausal da paciente. “Ainda que a associação inversa em mulheres na pré-menopausa demande mais investigação, os dados sugerem que, para mulheres na pós-menopausa, a redução do tempo sedentário pode ser uma estratégia adicional de prevenção primária do câncer de mama”, afirmam os autores em artigo publicado no periódico Cancer Epidemiology Biomarkers.

Publicado a partir dos dados da Sister Study Cohort, o estudo avaliou mulheres entre 35 e 74 anos, todas com pelo menos uma irmã diagnosticada com câncer de mama, mas que ainda não haviam recebido esse diagnóstico. As participantes foram acompanhadas de 2008 a 2021, com coleta detalhada de dados sobre comportamento sedentário entre 2008 e 2012.

Os casos de câncer de mama foram notificados anualmente. Os pesquisadores utilizaram a regressão de risco proporcional de Cox multivariável para estimar as razões de risco (HR) e os intervalos de confiança (IC) de 95% para a associação do tempo sedentário com a incidência geral de câncer de mama, tendo a idade como escala de tempo primária e ajustada para covariáveis relevantes. As participantes foram acompanhadas até setembro de 2021, e foram avaliadas a modificação da medida de efeito pelo estado menopausal.

Os pesquisadores categorizaram o tempo sedentário em três faixas: ≤5 horas/dia (grupo de referência), 6–9 horas/dia e ≥10 horas/dia. A análise ajustada por variáveis de confusão indicou que passar mais de 6 horas sentada por dia esteve associado a um aumento significativo na incidência de câncer de mama: 6–9h/dia vs. ≤5h/dia: HR ajustado (aHR) = 1,18 (IC 95%: 1,08–1,28); ≥10h/dia vs. ≤5h/dia: aHR = 1,19 (IC 95%: 1,07–1,32).

Ao estratificar por status menopausal, os resultados apontaram uma importante modificação do efeito: Na pós-menopausa, o risco aumentou proporcionalmente ao tempo sedentário: ≥10h/dia vs. ≤5h/dia: aHR = 1,28 (IC 95%: 1,14–1,43). Já na pré-menopausa observou-se uma associação inversa: ≥10h/dia vs. ≤5h/dia: aHR = 0,69 (IC 95%: 0,50–0,95).

A heterogeneidade entre os grupos foi estatisticamente significativa (p-heterogeneidade = 0,002), sugerindo que o impacto do sedentarismo sobre o risco de câncer de mama é modulado pelo estado hormonal da mulher.

“Embora estudos prévios sobre comportamento sedentário e câncer de mama tenham mostrado resultados inconsistentes, esta análise se destaca pelo tamanho da amostra, tempo de seguimento e controle de variáveis. Os achados reforçam a importância de considerar o status menopausal ao avaliar o risco oncológico relacionado ao estilo de vida”, destacam os autores, ressaltando que ainda que a associação inversa em mulheres pré-menopáusicas demande mais investigação, os dados sugerem que, para mulheres pós-menopáusicas, a redução do tempo sedentário pode ser uma estratégia adicional de prevenção primária do câncer de mama.

“O sedentarismo é um fator de risco modificável, mas seu impacto sobre a carcinogênese mamária parece depender da fase reprodutiva da mulher. Esses achados reforçam a necessidade de uma abordagem individualizada nas recomendações de saúde preventiva, especialmente na população feminina com histórico familiar de câncer de mama”, concluem.

Referência:

Sidney M. Donzella, Molly Rogers, Katie M. O'Brien, Ann Von Holle, Dale P. Sandler, Clarice R. Weinberg, Mary V. Diaz Santana; Sedentary time and breast cancer risk in the Sister Study Cohort. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 2025; https://doi.org/10.1158/1055-9965.EPI-25-0510