Estudo de coorte prospectivo realizado na Coreia do Sul, com mais de 111 mil participantes acompanhados por uma média de 9,1 anos, identificou uma associação significativa entre níveis elevados de triglicerídeos séricos e risco aumentado de câncer colorretal. Os achados foram publicados no periódico Cancer Prevention Research e reforçam a hipótese de que fatores metabólicos, em especial dislipidemias, podem contribuir para a carcinogênese colorretal.
O câncer colorretal é uma das neoplasias com maior crescimento na Ásia, particularmente na Coreia do Sul, o que torna a identificação de novos fatores de risco e marcadores modificáveis estratégica para a saúde pública e para a prática clínica.
A pesquisa utilizou dados do Health Examinees (HEXA) cohort, parte do Korean Genome and Epidemiology Study (KoGES), e incluiu 111.330 adultos coreanos entre 40 e 69 anos que não faziam uso de medicações hipolipemiantes. Foram avaliadas as concentrações séricas de LDL, HDL, colesterol total e triglicerídeos ((TG), com definições clínicas de dislipidemia aplicadas para categorização dos grupos.
Os casos de câncer foram identificados por meio do registro nacional de câncer. As associações entre lipídios e cânceres foram avaliadas por regressão de Cox. As análises de subgrupos foram conduzidas por sexo, idade, diabetes e experiência prévia em rastreamento, juntamente com análises de sensibilidade baseadas na duração do acompanhamento.
Durante o acompanhamento médio de 9,1 anos, foram registrados 821 casos incidentes de câncer colorretal. Os resultados mostram que níveis elevados de triglicerídeos (TG) foram consistentemente associados a um maior risco de câncer colorretal. Participantes no quartil mais alto de TG tiveram um risco 32% maior de desenvolver câncer colorretal em comparação com aqueles no quartil mais baixo (HR = 1,32; IC95%: 1,07–1,62; p-trend = 0,02). A associação foi particularmente significativa para câncer de cólon (HR = 1,42 IC95%: 1,08–1,86; p-trend = 0,01); e câncer retal (HR = 1,42 IC95%: 1,07–1,87), entre indivíduos com hipertrigliceridemia.
Os níveis de colesterol total também se associaram a um risco aumentado de CCR (HR = 1,22), ainda que de forma mais modesta. Nenhuma associação relevante foi observada com LDL ou HDL isoladamente.
Os autores destacam que os níveis de triglicerídeos, por serem potencialmente modificáveis, podem representar um novo alvo em estratégias de prevenção do câncer colorretal. “Embora estudos adicionais sejam necessários para determinar causalidade e avaliar intervenções, os achados sugerem que a gestão lipídica pode ter impacto além do controle cardiovascular, estendendo-se à oncologia preventiva”, ressaltam os pesquisadores.
A análise de subgrupos demonstrou resultados consistentes, embora levemente atenuados, em participantes com mais de 50 anos, reforçando a relevância clínica especialmente em faixas etárias de maior risco oncológico. “Este estudo contribui para o entendimento do papel das alterações metabólicas na fisiopatologia do câncer colorretal e levanta a possibilidade de futuras investigações sobre o uso de terapias hipolipemiantes como ferramentas preventivas na oncologia”, concluem.
Referência:
Sukhong Min, Hyobin Lee, Sinyoung Cho, Seung-Yong Jeong, Aesun Shin, Daehee Kang; Association of Elevated Serum Triglycerides with Colorectal Cancer Risk: Findings from a Large-scale Prospective Cohort of Korean Adults. Cancer Prev Res (Phila) 2025; https://doi.org/10.1158/1940-6207.CAPR-25-0058
https://aacrjournals.org/cancerpreventionresearch/article-abstract/doi/10.1158/1940-6207.CAPR-25-0058/764100/Association-of-Elevated-Serum-Triglycerides-with?redirectedFrom=fulltext