Pessoas vivendo com HIV que desenvolvem cânceres não relacionados à AIDS enfrentam risco significativamente maior de doenças crônicas graves, em comparação com aquelas sem câncer. É o que mostra um estudo de coorte retrospectivo publicado no Journal of the National Comprehensive Cancer Network (JNCCN), com dados de mais de duas décadas coletados em centros acadêmicos dos Estados Unidos.
Com o aumento da longevidade proporcionado pela terapia antirretroviral, cresce também a incidência de comorbidades entre pessoas vivendo com HIV (PVHIV) — incluindo cânceres não definidores de AIDS (NADC, da sigla em inglês - Non-AIDS-Defining Cancers) como câncer anal, câncer de pulmão de células não pequenas, câncer de próstata, linfoma de Hodgkin clássico e carcinoma hepatocelular.
Este estudo de coorte retrospectivo examina se pessoas vivendo com HIV com cânceres não definidores de AIDS enfrentam um risco maior de novas condições crônicas de saúde em comparação com aquelas sem câncer. A análise utilizou dados do consórcio CNICS (Centers for AIDS Research Network of Integrated Clinical Systems), abrangendo pacientes entre 1995 e 2018 em 8 instituições acadêmicas dos EUA. O estudo incluiu 693 PVHIV com diagnóstico dos cinco NADCs mais comuns (câncer anal, câncer de pulmão de células não pequenas, câncer de próstata, linfoma de Hodgkin clássico e carcinoma hepatocelular) e 1.345 pacientes pareados sem câncer, considerando idade, ano de entrada na coorte e sexo.
As condições crônicas de saúde foram classificadas usando o CTCAE, com o desfecho primário sendo o risco de novas morbidades de grau ≥ 3, analisadas por meio da regressão de Cox.
Em um acompanhamento mediano de 13,7 anos para pessoas vivendo com HIV com com NADCs e 10,7 anos para o grupo sem câncer, a prevalência de morbidades de grau ≥ 3 foi significativamente maior no grupo NADC (24,8% vs. 13,8%; P≤0,01).
A regressão multivariável de Cox mostrou um risco maior de novas condições de grau ≥ 3 no grupo NADC (razão de risco, 2,94; P < 0,0001), especificamente diabetes mellitus (todos os NADCs), infarto do miocárdio (câncer de pulmão de células não pequenas e linfoma de Hodgkin) e insuficiência cardíaca congestiva (câncer de próstata).
“Os resultados reforçam a urgência de estratégias de cuidado integradas para pessoas que vivem com HIV que enfrentam o diagnóstico e o tratamento de cânceres não definidores de AIDS. O foco não deve ser apenas na sobrevida oncológica ou controle do HIV, mas também na prevenção e manejo das condições crônicas associadas ao envelhecimento e à toxicidade dos tratamentos”, afirmam os pesquisadores.
“Essas descobertas têm implicações críticas para o cuidado de sobreviventes com HIV e câncer, e destacam a necessidade de abordagens multidisciplinares para mitigar os efeitos tardios nessa população vulnerável”, avaliam, apontando a integração entre oncologia, infectologia, cardiologia e endocrinologia como caminho essencial para reduzir a carga de morbidade e melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
Referência:
Goyal, G., Enogela, E. M., Burkholder, G. A., Kitahata, M. M., Crane, H. M., Eulo, V., Achenbach, C. J., Farel, C. E., Hunt, P. W., Jacobson, J. M., Fleming, J., Cachay, E. R., Saag, M. S., Bhatia, S., & Richman, J. (2025). Burden of Chronic Health Conditions Among People With HIV and Common Non–AIDS-Defining Cancers. Journal of the National Comprehensive Cancer Network, 23(7), e257018. Retrieved Oct 3, 2025, from https://doi.org/10.6004/jnccn.2025.7018