Onconews - Estudo avalia associação entre sono e satisfação sexual em sobreviventes de câncer de mama

Análise secundária do ensaio clínico randomizado Apps Reaching Cancer Survivors trouxe à tona dados relevantes sobre duas queixas frequentes entre mulheres que enfrentaram o câncer de mama: a má qualidade do sono e a insatisfação sexual. Os resultados mostram que embora esses sintomas melhorem ao longo do tempo, eles evoluem de forma independente — o que reforça a necessidade de abordagens específicas para cada domínio no cuidado oncológico. O estudo foi publicado na Cancer, periódico da American Cancer Society.

Globalmente, uma em cada 20 mulheres será diagnosticada com câncer de mama ao longo da vida. Mesmo após o tratamento, muitas seguem enfrentando efeitos colaterais físicos e emocionais que comprometem sua qualidade de vida. Entre os mais prevalentes estão as alterações no sono e na vida sexual — aspectos ainda pouco explorados de forma conjunta na literatura científica.

Esta análise secundária examinou a associação prospectiva entre a qualidade do sono e a satisfação sexual de sobreviventes de câncer de mama.

Esta análise secundária incluiu mulheres (N = 313) com diagnóstico prévio de câncer de mama e níveis significativos de sofrimento emocional, com idade média de 52 anos (faixa de 27 a 77 anos). As participantes relataram sua qualidade do sono (avaliada pelo Pittsburgh Sleep Quality Index) e satisfação sexual (medida pela escala PROMIS Satisfaction With Sex Life) em quatro momentos: no início do estudo, após 8 semanas, 6 meses e 12 meses.

Os dados foram analisados por meio de modelagem de crescimento latente em paralelo, permitindo avaliar como os dois sintomas evoluem ao longo do tempo e se há interdependência entre suas trajetórias. A análise foi ajustada por idade e status de relacionamento, sem influência significativa do tipo de intervenção recebida no estudo original.

Os resultados revelam que a maioria dos sobreviventes (77%) relatou comprometimentos clinicamente significativos tanto na qualidade do sono quanto na satisfação sexual em um ou mais momentos. O ajuste do modelo foi forte (χ2[29] = 24,47; p = 0,71; índice de ajuste comparativo = 1,00; raiz quadrada média residual padronizada = 0,025), sem moderação pela condição de intervenção.

Tanto a qualidade do sono (p < 0,001) quanto a satisfação sexual (p = 0,004) melhoraram ao longo do tempo, com maiores melhorias observadas entre os participantes com piores pontuações iniciais (p = 0,01 para ambas as associações).

A qualidade do sono e a satisfação sexual foram positivamente associadas no início do estudo (p < 0,001), mas os níveis iniciais em um domínio não previram mudanças no outro, e suas trajetórias não foram significativamente relacionadas.

Em síntese, má qualidade do sono e baixa satisfação sexual comumente ocorrem simultaneamente entre sobreviventes de câncer de mama em sofrimento e estão relacionadas transversalmente. No entanto, mudanças nesses domínios ocorreram de forma independente ao longo do tempo, destacando a importância de avaliar ambas as preocupações e fornecer cuidados de sobrevivência específicos para cada domínio.

“Os dados reforçam a necessidade de programas de sobrevivência que considerem não apenas a recorrência da doença, mas também os aspectos que impactam diretamente o bem-estar e a recuperação emocional das pacientes”, concluem os autores.

Referência:

Shaffer KM, Daniel KE, Wiseman KP, et al. Prospective associations between sleep quality and sexual satisfaction in distressed breast cancer survivors: secondary analysis from the Apps Reaching Cancer Survivors randomized trial. Cancer. 2025;e70093. doi:10.1002/cncr.70093