Estudo publicado na Cancer, periódico da American Cancer Society, revela uma desconexão entre os desejos dos pacientes com câncer avançado e o tratamento que de fato recebem. A análise sugere que muitos pacientes oncológicos que preferem cuidados voltados para o conforto relatam estar recebendo terapias com foco em prolongar a vida, um desalinhamento que pode impactar negativamente a qualidade de vida e os desfechos clínicos.
O trabalho realizou uma análise transversal post-hoc com base em dados de um ensaio multicêntrico sobre planejamento antecipado de cuidados. A amostra incluiu 1.099 adultos com doenças graves, entre eles 231 pacientes com câncer avançado. Os participantes foram questionados sobre sua preferência entre cuidados voltados à longevidade (tratamentos que visam estender a vida) ou ao conforto (cuidados paliativos), e sobre a percepção do tipo de tratamento que estavam recebendo.
Entre 1.099 pacientes, aqueles com câncer avançado (n = 231) relataram preferência semelhante por cuidados focados no conforto (49% vs. 48%, p = 0,47) e apresentaram mortalidade em 24 meses semelhante (16% vs. 13%, p = 0,25) aos pacientes com outras doenças graves (n = 868). Entre os pacientes que preferiram cuidados focados no conforto, os pacientes com câncer (n = 113) foram mais propensos do que os pacientes com outras doenças (n = 413) a relatar o recebimento de cuidados (discordantes) para prolongamento da vida (37% vs. 19%, p < 0,001).
Ainda entre os pacientes oncológicos que preferiam cuidados paliativos, não houve diferença estatisticamente significativa de mortalidade entre aqueles que relataram receber cuidados discordantes (voltados à longevidade) e os que estavam alinhados com sua preferência (24% vs 15%, p = 0,31).
Os autores destacam que, embora a proporção de pacientes oncológicos que preferem cuidados focados no conforto seja semelhante à de outras doenças graves, esses pacientes têm mais chances de receber terapias não alinhadas com seus objetivos. “Isso aponta para a necessidade urgente de melhorar o alinhamento entre preferências do paciente e conduta terapêutica, especialmente em oncologia, onde decisões sobre continuidade ou interrupção de tratamentos podem ser particularmente complexas”, afirmam.
O estudo reforça o papel central do planejamento antecipado de cuidados e da comunicação efetiva como ferramentas para garantir que o tratamento reflita os valores e desejos do paciente, especialmente em fases avançadas da doença.
Referência:
Shah MP, Wenger NS, Glaspy J, et al. Patient-reported discordance between care goals and treatment intent in advanced cancer. Cancer. 2025;e35976. doi:10.1002/cncr.35976