O tratamento com durvalumabe após radioterapia demonstrou perfil de segurança aceitável e sinais encorajadores de eficácia em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas irressecável em estágio III, inelegíveis para tratamento com quimioterapia. É o que demonstram os resultados do estudo não randomizado de Fase 2 DUART, publicado no ESMO Open, em acesso aberto.
Atualmente, pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) em estágio III irressecável, inelegíveis para quimioterapia, recebem radioterapia isolada, estratégia que oferece benefício limitado em termos de controle da doença e sobrevida. Nesse contexto, o ensaio clínico de fase II, de braço único, DUART, se propõe a avaliar a adição de durvalumabe após a radioterapia em uma população mais idosa e com performance clínica comprometida.
O estudo incluiu 102 pacientes adultos, divididos em duas coortes conforme a dose de radioterapia recebida: coorte A (definitiva) e coorte B (paliativa). Os participantes receberam durvalumabe na dose de 1500 mg a cada 4 semanas, por até 12 meses, desde que não apresentassem progressão após o término da radioterapia.
A mediana de idade foi de 79 anos, refletindo o perfil mais frágil da população, e mais de 80% dos pacientes tinham ECOG ≥1, evidenciando limitações funcionais.
O desfecho primário foi a incidência de eventos adversos possivelmente relacionados (PRAES) de grau 3/4 em até 6 meses após o início do tratamento com durvalumabe. Os desfechos secundários incluíram taxa de resposta objetiva, sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG). As análises exploratórias de tumores circulantes (ctDNA) utilizaram um ensaio de metilação direcionada (GRAIL, Inc.).
Em 6 de dezembro de 2023, 102 pacientes receberam durvalumabe (coorte A: 53; coorte B: 49); 18,8%/73,3%/7,9% tinham ECOG PS 0/1/2 e a mediana de idade foi de 79,0 anos. No geral, 9,8% [intervalo de confiança (IC) de 95% 4,8% a 17,3%] apresentaram PRAEs de grau 3/4 em até 6 meses após o início de durvalumabe.
A mediana de sobrevida livre de progressão (SLP) avaliada pelo investigador foi de 9,2 meses, com uma taxa de sucesso em 12 meses de 39,6%. A mediana de sobrevida global (SG) foi de 21,1 meses e a taxa de sucesso em 12 meses foi de 64,7%.
Um dos diferenciais do estudo foi a avaliação exploratória do DNA tumoral circulante (ctDNA) por meio de um ensaio de metilação dirigido. Os resultados indicam que pacientes com ctDNA detectável no início do tratamento (ciclo 1) ou no ciclo 7 apresentaram pior SLP em comparação com aqueles com ctDNA indetectável. Em contrapartida, alguns pacientes alcançaram remissão molecular completa, mesmo após radioterapia paliativa — sugerindo um possível marcador de resposta à imunoterapia.
Em síntese, o estudo DUART amplia o entendimento sobre o uso de imunoterapia em populações tradicionalmente excluídas dos grandes ensaios clínicos. “A adição de durvalumabe após radioterapia pode representar uma nova alternativa terapêutica para pacientes idosos e inelegíveis à quimioterapia, com perfil de toxicidade manejável e benefício clínico promissor”, concluem os autores.
Referência:
Durvalumab after radiotherapy in patients with unresectable stage III non-small-cell lung cancer ineligible for chemotherapy: the DUART phase II nonrandomized controlled study. Filippi, A.R. et al. ESMO Open, Volume 10, Issue 9, 105560