Onconews - Estudo brasileiro avalia papel do ctDNA no melanoma de alto risco

Pedro Abrahão Reis (foto), estudante de medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é primeiro autor de estudo que reforça o papel do DNA tumoral circulante (ctDNA) como ferramenta promissora na estratificação de risco e no monitoramento de pacientes com melanoma de alto risco após ressecção completa. Selecionado para apresentação em pôster no 7º Congresso Internacional de Biopsia Líquida, que aconteceu entre os dias 1º e 3 de novembro em Orlando, Estados Unidos, o estudo foi reconhecido com o Travel Awards, que ajuda a custear a participação do autor no evento.

O melanoma de alto risco totalmente ressecado (IIB-IV) está associado a uma taxa significativa de recidiva, mesmo em pacientes que fizeram uso de terapia adjuvante. Nesse contexto, o DNA tumoral circulante (ctDNA) tem se destacado como um biomarcador promissor para a detecção de doença residual molecular (DRM).

Nesta meta-análise, os pesquisadores avaliaram o papel prognóstico e diagnóstico do ctDNA em pacientes com melanoma de alto risco ressecado. Uma busca sistemática foi realizada nas bases de dados PubMed, Embase e Cochrane até julho de 2025. O status do ctDNA foi avaliado em três momentos: baseline (pré-cirurgia), landmark (primeira coleta dentro de 13 semanas pós-cirurgia, e antes da terapia adjuvante) e longitudinal (acompanhamento seriado durante a vigilância).

Modelos de efeitos aleatórios estimaram as razões de risco (HR) com intervalos de confiança (IC) de 95% para sobrevida livre de recidiva (SLR), sobrevida livre de metástase à distância (SLMD) e sobrevida global (SG). Para os desfechos diagnósticos, foram feitas análises no modelo univariado e bivariado, agrupando sensibilidade, especificidade, razão de chances diagnósticas e área sob a curva.

Foram incluídos 18 estudos, compreendendo 20 coortes e 2.839 pacientes com melanoma de alto risco. A mediana de idade foi de 58 anos (variação de 19 a 93 anos), e 57,8% eram do sexo masculino. A mediana de acompanhamento foi de 26,5 meses. O tratamento adjuvante consistiu principalmente em inibidores de checkpoint imunológico ou terapia-alvo.

Os resultados mostraram que a positividade do ctDNA no baseline foi associada a pior sobrevida livre de recorrência (SLR) (HR 3,14, IC 95% 1,82–5,41) e sobrevida livre de metástases à distância (SLMD) (HR 3,49, IC 95% 1,84–6,63). No landmark, a positividade do ctDNA também foi associada a pior prognóstico em relação à SLR (HR 3,42, IC 95% 2,51–4,65), SLMD (HR 5,38, IC 95% 3,09–9,37) e sobrevida global (SG) (HR 3,45, IC 95% 2,54–4,69). Apesar de dados para apenas duas coortes, a positividade longitudinal também apresentou alta correlação com a SLR (HR 7,26, IC 95% 1,89–27,81).

Na análise univariada, sensibilidade e especificidade agrupadas foram de 53,2% a 74,2% na avaliação inicial, de 33,0% a 92,4% na avaliação landmark e de 56,3% a 95,6% nas avaliações longitudinais. Análise bivariada não apresentou diferenças significativas nos valores de sensibilidade e especificadade.  além de uma razão de chances diagnósticas (DOR) (10,25, IC 95% 3,70–28,49) e a área sob a curva ROC (AUC) (0,776, IC 95% 0,499–0,887) maiores no timepoint longitudinal. No entanto, quando comparando estudos que avaliaram concomitantemente o timepoint landmark e longitudinal, não houve diferença significativa no teste acurácia diagnóstica entre as análises (p = 0,129).

A positividade do ctDNA se mostrou altamente prognóstica, demonstrando uma forte associação com maior risco de recorrência e sobrevida. A ressecção completa pode sinalizar doença residual subclínica e antecipar a recidiva, oferecendo uma janela de oportunidade para intervenção precoce. Além disso,ctDNA positivo demonstrou moderada acurácia diagnóstica, particularmente na coleta longitudinal. Esse resultado justifica estudos prospectivos randomizados para validação e integração do ctDNA em protocolos de acompanhamento.

“Embora a heterogeneidade entre os estudos e a ausência de padronização técnica ainda limitem a implementação clínica ampla, os resultados reforçam o potencial do ctDNA como biomarcador prognóstico e diagnóstico no melanoma de alto risco”, observam os autores. “Esta meta-análise consolida o ctDNA como ferramenta promissora na vigilância pós-cirúrgica do melanoma avançado. A detecção persistente ou recorrente de ctDNA pode servir como alerta precoce de recidiva e orientar o manejo personalizado desses pacientes”, concluem.

Além de Pedro Abrahão Reis, que assina como primeiro autor, o estudo tem participação dos pesquisadores Mariana Macambira Noronha e João Evangelista Ponte Conrado (Universidade Federal do Ceará - UFC); Luís Felipe Leite da Silva (Universidade Federal Fluminense); Isabella Romagnoli Buonopane (Universidade Federal da Bahia); e Erick Saldanha (Princess Margaret Cancer Centre e Universidade de Toronto), autor sênior do trabalho.

Referência:

Prognostic and Diagnostic Role of Circulating Tumor DNA (ctDNA) in High-risk Melanoma Patients: A Systematic Review and Meta-analysis - Pedro C. Abrahão Reis1; Mariana Macambira Noronha2; João Evangelista Ponte Conrado2; Luís Felipe Leite da Silva3; Isabella Romagnoli Buonopane4; Erick F. Saldanha5,6

1 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), RJ, Brazil;

2 Universidade Federal do Ceará (UFC), CE, Brazil;

3 Universidade Federal Fluminense, RJ, Brazil;

4 Universidade Federal da Bahia (UFBA) BA, Brazil;

5 Drug Development and Phase 1 Program, Princess Margaret Cancer Centre, University Health Network, Toronto, ON, Canada;

6 Department of Medicine, University of Toronto, Toronto, ON, Canada.