Onconews - Desafios para o controle do câncer na América Latina

Os oncologistas Anelisa Coutinho e Carlos Barrios (foto) estão entre os autores de estudo de revisão que analisa as taxas de incidência e mortalidade por câncer na América Latina e Caribe, com foco nos Planos Nacionais de Controle do Câncer (PNCCs) como caminhos estruturais para reduzir a carga de câncer na região. Os resultados estão no Lancet Oncology e revelam que apenas 16 países tinham PNCCs ativos em 2022, dos quais somente oito específicos para câncer - todos associados à redução da incidência de câncer, mas não à redução da mortalidade.

O câncer continua a representar desafios importantes para a saúde pública, especialmente em países de baixa e média renda. Nesta revisão, os pesquisadores contextualizam a importância dos Planos Nacionais de Controle do Câncer (PNCCs) como componentes essenciais para reduzir a incidência do câncer, melhorar a detecção precoce e aprimorar os resultados do tratamento.

Entre 42 países identificados na América Latina e Caribe (ALC), 34 foram incluídos na revisão. Aruba, Ilhas Cayman, Guiana Francesa, Guadalupe, Martinica, São Bartolomeu, Ilhas Virgens, Ilhas Turcas e Caicos foram excluídos em razão da escassez de dados sobre a carga e o controle do câncer.

A análise mostra que a ausência de PNCCs operacionais e de alta qualidade perpetua as disparidades globais nos desfechos do câncer, com impacto na equidade em saúde e no acesso às medidas de controle do câncer. Os resultados revelam enorme variabilidade na incidência e mortalidade por câncer em toda a ALC, moldada por diferenças na infraestrutura de saúde, capacidade econômica e estratégias de controle do câncer. México, Brasil e Argentina concentram quase 60% da carga do câncer na região.

A cobertura universal de saúde e o maior Índice de Desenvolvimento Humano estão entre os indicadores associados a melhores desfechos de câncer, assim como políticas de prevenção, como o rastreamento do câncer cervical e a adesão às estratégias de controle do tabaco MPOWER da Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, registros de câncer insuficientes, subfinanciamento e desigualdades na assistência à saúde persistem como barreiras importantes à implementação dos PNCCs.

“Ao abordar lacunas na coleta de dados, alocação de recursos e estratégias de implementação, esta pesquisa contribui com insights práticos para formuladores de políticas, profissionais de saúde e outras partes interessadas (por exemplo, sociedades científicas, grupos de defesa de pacientes e organizações não governamentais), com o objetivo de promover os esforços de controle do câncer na região”, destacam os autores.

Referência:

National cancer control plans in Latin America and the Caribbean: challenges and future directions. Villarreal-Garza, Cynthia et al.The Lancet Oncology, Volume 26, Issue 6, e320 - e330