A ooforectomia paliativa melhora a sobrevida global em pacientes com metástase ovariana de adenocarcinoma gástrico primário? Estudo publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO) demonstrou um benefício estatisticamente significativo na sobrevida em mulheres com câncer gástrico e metástase ovariana submetidas à ooforectomia paliativa (29,9 versus 11,9 meses). O brasileiro Matheus Sewastjanow-Silva (foto), pesquisador do Departamento de Oncologia Gastrointestinal da Universidade do Texas MD Anderson Cancer Center, é o primeiro autor do trabalho.
O câncer gástrico é o quinto câncer mais comum e a terceira principal causa de mortalidade relacionada ao câncer em todo o mundo. A taxa de sobrevida estimada em 5 anos para câncer gástrico metastático nos Estados Unidos é de aproximadamente 7%, e apesar dos avanços na terapêutica do câncer, pacientes com câncer gástrico ainda apresentam um prognóstico desfavorável devido à alta taxa de recidiva e disseminação metastática. Estudos anteriores estimaram a incidência de metástase ovariana por câncer gástrico entre 0,3% e 6,7%.
Esta análise retrospectiva realizada em instituição única avaliou as características clinicopatológicas de mulheres diagnosticadas com câncer gástrico metastático, com uma comparação dos desfechos com base no status da ooforectomia paliativa. Os pesquisadores identificaram 240 mulheres com câncer gástrico metastático basal que foram tratadas no MD Anderson Cancer Center entre fevereiro de 2003 e setembro de 2022. Entre essas mulheres, foi categorizado um subgrupo de 102 mulheres que apresentaram metástase ovariana do câncer gástrico primário. Os pesquisadores analisaram se as pacientes foram submetidas à ooforectomia paliativa.
Os resultados publicados no JCO revelam que pacientes que desenvolveram metástases ovarianas eram, na maioria das vezes, não caucasianos, apresentavam envolvimento peritoneal e tumores tanto negativos para HER2 quanto para PD-L1, com características de células em anel de sinete e tipo histológico difuso.
Entre as pacientes com metástases ovarianas, aquelas submetidas a ooforectomia paliativa apresentaram ECOG 0, perfil molecular e imunohistoquímico mais abrangente, menor percentual de histórico familiar de neoplasias gastroesofágicas e menor intervalo entre o diagnóstico do câncer gástrico primário e a metástase ovariana. A ooforectomia paliativa foi associada a uma sobrevida global significativamente melhor neste subgrupo (razão de risco, 0,5 [IC 95%, 0,31 a 0,81]; P = 0,005).
“Até onde sabemos, este é o maior estudo populacional multiétnico que avalia a sobrevida de pacientes com metástases ovarianas e câncer gástrico. Além disso, é o maior estudo que analisa a sobrevida nessa população de acordo com as características multiétnicas da paciente, o tempo de metástase e os padrões de crescimento”, observam os autores. A ooforectomia paliativa apresenta-se como uma opção terapêutica para mulheres com câncer gástrico e metástases ovarianas, desde que a paciente seja clinicamente adequada para ressecção cirúrgica”, concluem.
Referência:
Matheus Sewastjanow-Silva et al. Survival Benefit of Palliative Oophorectomy for Patients With Ovarian Metastasis From Baseline Metastatic Gastric Adenocarcinoma. JCO 0, JCO-24-01678. DOI:10.1200/JCO-24-01678