Especialistas do American Joint Committee on Cancer (AJCC) reavaliaram o estadiamento patológico AJCC9V do carcinoma orofaríngeo HPV-positivo para aprimorar sua precisão prognóstica e aplicabilidade clínica. “A classificação AJCC9V confere um esquema aprimorado para orientar o prognóstico e o manejo em comparação com a AJCC8E”, avaliam os autores em artigo publicado no Lancet Oncology.
A modernização do estadiamento do American Joint Committee on Cancer e da União Internacional para o Controle do Câncer (AJCC/UICC) para carcinoma orofaríngeo HPV-positivo fortaleceu seu papel fundamental na transmissão do prognóstico e na orientação das decisões terapêuticas. A implementação, no entanto, revelou desequilíbrios.
Para esta análise de registro multicêntrico, os dados do registro americano do Banco de Dados Nacional de Câncer foram divididos em coortes de derivação e validação. Os casos elegíveis incluíram pacientes adultos tratados cirurgicamente com 18 anos ou mais e carcinoma de orofaringe HPV-positivo.
O objetivo principal foi derivar e validar uma classificação otimizada do estadiamento patológico do carcinoma orofaríngeo HPV-positivo com base nos determinantes da sobrevida global. Modelos de regressão multivariável de Cox foram utilizados para avaliar as características dos linfonodos em relação à sobrevida global.
Associações não lineares entre o número de linfonodos metastáticos e a sobrevida foram modeladas com splines cúbicas restritas. Razões de risco ajustadas (HRA) e métodos de análise de partição recursiva foram aplicados para gerar grupos de classificação ideais. O desempenho foi avaliado com os critérios de Groome.
No geral, 14.447 pacientes em 984 instituições nos EUA preencheram os critérios de inclusão e foram divididos em uma coorte de derivação (n = 7.768) e uma coorte de validação (n = 6.679). Os pacientes foram tratados entre 2010 e 2019; 12.276 (85,0%) eram do sexo masculino, 2.171 (15,0%) do sexo feminino, 13.594 (94,1%) eram brancos e 4.552 pacientes (31,5%) apresentavam extensão extranodal patológica (pENE).
O acompanhamento mediano foi de 52,4 meses (IC 95% 51,5–53,3). O risco de mortalidade aumentou com cada linfonodo metastático adicional (HR 1,20 [IC 95% 1,11–1,29], p<0,0001), até um ponto de corte ótimo de 4,3 linfonodos. A análise multivariável confirmou a associação da extensão extranodal patológica com o aumento do risco de mortalidade (HR 1,47 [IC 95% 1,30–1,65], p<0,0001), mas a extensão da pENE não apresentou alterações prognósticas significativas (menor vs. maior).
Abordagens de razões de risco ajustadas derivaram e validaram categorias otimizadas de estadiamento pN e pTNM (N1a: 1 linfonodo positivo e pENE negativo; N1b: 2–4 linfonodos positivos e pENE negativo; N2: >4 linfonodos positivos e pENE negativo ou 1–4 linfonodos positivos e ENE positivo; N3: >4 linfonodos positivos e ENE positivo; Estágio I: T0-2N0-1M0; Estágio II: T0-2N2-3M0 ou T3N0-2M0; Estágio III: T3N3M0 ou T4N0-3MO); Estágio IV: M1.
Em síntese, em comparação com AJCC8E, a AJCC9V apresentou consistência de risco, predição de resultados e equilíbrio superiores, mas não discriminação de risco. O Painel de Especialistas da AJCC em carcinoma orofaríngeo HPV-positivo endossou a proposta por consenso Delphi.
“A classificação de estadiamento do carcinoma orofaríngeo HPV-positivo AJCC9V confere um esquema aprimorado para orientar o prognóstico e o manejo em comparação com a AJCC8E. A incorporação da extensão extranodal patológica e a correção de desequilíbrios aumentarão a relevância clínica e alinharão o estadiamento patológico em uma condição cujo manejo continua a evoluir”, concluem os autores.
Referência:
Derivation and validation of the AJCC9V pathological stage classification for HPV-positive oropharyngeal carcinoma: a multicentre registry analysis. Ho, Allen S et al. The Lancet Oncology, Volume 26, Issue 8, 1113 - 1122
