A incidência de câncer de próstata está aumentando. Pesquisa com participação da Royal Marsden NHS Foundation Trust publicada na New England Journal of Medicine mostra que um escore de risco poligênico aplicado a um programa de rastreamento melhorou a detecção precoce do câncer de próstata clinicamente significativo na comparação com o rastreamento por PSA ou ressonância magnética.
O rastreamento com ensaio de antígeno prostático específico (PSA) apresenta alta taxa de resultados falso-positivos. Estudos de associação genômica identificaram variantes germinativas comuns em homens com câncer de próstata, que podem ser usadas para calcular um escore de risco poligênico associado ao risco de câncer de próstata.
Neste estudo (BARCODE1; NCT03857477), McHugh et al. inscreveram homens de 55 a 69 anos de idade em centros de atenção primária no Reino Unido. Utilizando DNA da linha germinativa extraído da saliva, os pesquisadores derivaram escores de risco poligênico de 130 variantes conhecidas por estarem associadas a risco aumentado de câncer de próstata. Participantes com escore de risco poligênico no percentil 90 ou superior foram convidados a se submeter ao rastreamento do câncer de próstata com ressonância magnética (RM) multiparamétrica e biópsia transperineal, independentemente do nível de PSA.
Entre 40.292 pessoas convidadas para o estudo, 8.953 (22,2%) manifestaram interesse em participar e 6.393 tiveram seu escore de risco poligênico calculado; 745 (11,7%) apresentaram escore de risco poligênico igual ou superior ao percentil 90 e foram convidados a realizar o rastreamento. Desses 745 participantes, 468 (62,8%) foram submetidos à ressonância magnética e biópsia de próstata.
Os autores descrevem que o câncer de próstata foi detectado em 187 participantes (40,0%). A mediana de idade no diagnóstico foi de 64 anos (variação de 57 a 73). Dos 187 participantes com câncer, 103 (55,1%) apresentaram câncer de próstata classificado como de risco intermediário ou superior, de acordo com os critérios da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) de 2024, portanto, o tratamento foi indicado. Os resultados relatados na NEJM mostram que o câncer não teria sido detectado em 74 (71,8%) desses participantes pela via de diagnóstico atualmente utilizada no Reino Unido (nível elevado de PSA e resultados positivos de ressonância magnética). Além disso, 40 dos participantes com câncer (21,4%) apresentaram doença classificada como de risco intermediário desfavorável ou de risco alto ou muito alto, de acordo com os critérios da NCCN.
Em síntese, esses achados demonstram que um escore de risco poligênico aplicado a um programa de rastreamento do câncer de próstata envolvendo participantes no decil superior de risco foi capaz de identificar mais pacientes com doença clinicamente significativa do que a porcentagem que teria sido identificada com o uso de PSA ou ressonância magnética.
Este estudo constitui a evidência mais sólida até o momento sobre a utilidade clínica de um escore poligênico para o rastreamento do câncer de próstata. Outro aspecto do estudo BARCODE1 que merece destaque é que o teste de saliva é menos invasivo do que um exame de sangue ou uma ressonância magnética e pode ser mais aceitável para populações maiores.
Referência:
Assessment of a Polygenic Risk Score in Screening for Prostate Cancer. Jana K. McHugh, F.F.R.C.S.I., Elizabeth K. Bancroft, Ph.D., Edward Saunders, M.Sc., Mark N. Brook, Ph.D., Eva McGrowder, Ph.D., Sarah Wakerell, M.Sc., Denzil James, M.Sc., et al for the BARCODE1 Steering Committee and Collaborators - Published April 9, 2025. N Engl J Med 2025;392:1406-1417. DOI: 10.1056/NEJMoa2407934 – Vol. 392 nº 14