Leandro F. Rezende (foto), pesquisador da Unifesp, é coautor de estudo epidemiológico que avaliou se a atividade física pode reduzir o risco de desenvolver ou morrer de câncer do sistema digestivo, explorando quanta atividade física é necessária e qual a consistência ideal dessa atividade. Os resultados estão no Jama Oncology.
Evidências crescentes sugerem que a atividade física protege contra cânceres do sistema digestivo (CSD). No entanto, ainda não se sabe ao certo se atingir consistentemente as diretrizes de atividade física (≥7,5 horas equivalentes metabólicas [MET]/semana) está associado a um menor risco de CSD ou se um nível muito mais elevado é necessário.
Neste estudo populacional, os pesquisadores combinaram dados de três grandes coortes prospectivas dos EUA: Estudo de Acompanhamento de Profissionais de Saúde (Health Professionals Follow-Up Study, 1988-2020); Estudo de Saúde das Enfermeiras (Nurses’ Health Study, 1988-2021); e Estudo de Saúde das Enfermeiras II (Nurses’ Health Study II, 1991-2021). No total, 231.067 participantes, inicialmente sem câncer ou doença cardiovascular, foram acompanhados por até 32 anos.
Os cânceres do trato digestivo incluíram cânceres de boca, garganta, esôfago, estômago, intestino delgado, cólon e reto, enquanto cânceres em órgãos acessórios do sistema digestivo envolveram pâncreas, vesícula biliar e fígado. Os participantes responderam a questionários a cada 2 a 4 anos, com informações sobre histórico médico, atividade física no tempo livre e dieta.
Durante acompanhamento de até 32 anos de 231.067 homens e mulheres (idade mediana de 43 [intervalo interquartil, 36-55] anos), foram documentados 6.538 casos incidentes de CSD e 3.791 óbitos por CSD. Níveis mais elevados de atividade física foram associados a menor risco de câncer do trato digestivo (≥45 vs <3 MET-horas/semana; razão de risco [HR], 0,83; IC 95%, 0,74-0,93; P < 0,001 para tendência) e mortalidade (HR, 0,72; IC 95%, 0,62-0,83; P < 0,001 para tendência).
As associações inversas foram evidentes tanto para cânceres do trato digestivo, quanto para cânceres de órgãos acessórios: as HRs comparando ≥45 vs 3 MET-horas/semana foram de 0,85 (IC 95%, 0,75-0,97) para risco de câncer do trato digestivo e 0,73 (IC 95%, 0,58-0,92) para risco de câncer em órgãos acessórios do trato digestivo.
“A análise tradicional de dose-resposta sugeriu que o menor risco CSD foi alcançado com aproximadamente 50 MET-horas/semana. No entanto, ao considerar a consistência a longo prazo, em comparação com aqueles com atividade mínima, atingir consistentemente a recomendação em níveis moderados (mediana de 16,9 [intervalo interquartil, 13,6-20,5] MET-horas/semana) ao longo de três décadas foi associado a reduções substanciais no risco de CSD (razão de risco, 0,83; IC 95%, 0,75-0,90), enquanto que realizar quantidades muito maiores (mediana de 38,5 [intervalo interquartil, 28,5-53,8] MET-horas/semana) não foi associado a benefícios adicionais (razão de risco, 0,87; IC 95%, 0,81-0,93)”, descrevem os autores.
Em conclusão, a análise tradicional de dose-resposta sugeriu que aproximadamente 50 MET-horas/semana estavam associadas à redução ideal do risco de CSD. Após a incorporação da consistência a longo prazo, a manutenção de um nível moderado de aproximadamente 17 MET-horas/semana ao longo de 3 décadas foi associada à obtenção do benefício ideal na redução do risco de CSD.
Referência:
Zhang Y, Lee DH, Rezende LFM, Keum N, Giovannucci EL. Consistent Adherence to Physical Activity Guidelines and Digestive System Cancer Risk and Mortality. JAMA Oncol. Published online October 30, 2025. doi:10.1001/jamaoncol.2025.4185