Onconews - Assinaturas mutacionais do câncer colorretal de início precoce

Pesquisa com participação brasileira, que incluiu a colaboração da geneticista Patrícia Ashton-Prolla (foto), do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, sugere que as assinaturas mutacionais SBS88 e ID18 associadas à colibactina, toxina produzida por algumas cepas da bactéria E.coli, podem contribuir para o aumento da incidência do câncer colorretal de início precoce. A presença de SBS88 e ID18 foi 3,3 vezes mais frequente em indivíduos diagnosticados antes dos 40 anos do que naqueles com mais de 70 anos, descrevem os autores, em artigo na Nature.

As taxas de incidência do câncer colorretal variam geograficamente e mudaram ao longo do tempo. Dados epidemiológicos mostram que a incidência do câncer colorretal de início precoce, que afeta indivíduos com menos de 50 anos, dobrou em muitos países nas últimas duas décadas. Neste estudo, o objetivo foi investigar se os processos mutacionais contribuem para diferenças geográficas e relacionadas à idade.

Os pesquisadores analisaram 981 genomas de câncer colorretal (CRC), de 11 países, inclusive o Brasil. Os resultados relatados na Nature mostram que não foram encontradas diferenças significativas em cânceres apresentando instabilidade de microssatélites, mas variações na carga mutacional e assinaturas foram observadas em 802 casos de CRC com estabilidade de microssatélites.

“Múltiplas assinaturas, a maioria com etiologias desconhecidas, exibiram prevalência variável na Argentina, Brasil, Colômbia, Rússia e Tailândia, indicando níveis geograficamente diversos de exposição mutagênica”, analisam os autores.

A análise revela, ainda, que as assinaturas mutacionais SBS88 e ID18, associadas à colibactina, toxina produzida por algumas cepas da bactéria E.coli, apresentaram cargas mais altas em países com maiores taxas de incidência de câncer colorretal. A presença de SBS88 e ID18 também foi maior em cânceres colorretais de início precoce, sendo 3,3 vezes mais frequente em indivíduos diagnosticados antes dos 40 anos do que naqueles com mais de 70 anos, e foram impressos precocemente durante o desenvolvimento do câncer colorretal. A exposição à colibactina também foi associada a mutações no driver APC, com ID18 responsável por cerca de 25% dos indels do driver APC em casos positivos para colibactina.

Em conclusão, o estudo mostra que variações geográficas e relacionadas à idade estão implicadas nos processos mutacionais do câncer colorretal e sugere que a exposição mutagênica precoce a bactérias produtoras de colibactina pode contribuir para o aumento da incidência do câncer colorretal de início precoce.

“Os tumores de cólon em pessoas mais jovens exibiam, com maior frequência, uma assinatura molecular que é marca registrada de exposição passada a essa toxina colibactina, sugerindo que infecção intestinal na infância por essas cepas que produzem a toxina pode ser um evento desencadeante desses tumores colorretais que ocorrem antes dos 40 anos”, destaca Patrícia.

Além de Patrícia Prolla, a presença brasileira na pesquisa inclui os pesquisadores Wellington dos Santos, (Epidemiologia genômica, IARC), Ana Carolina de Carvalho (Epidemiologia genômica, IARC), Ricardo Cortez Cardoso Penha (Epidemiologia genômica, IARC), Maria Paula Curado (A.C. Camargo Cancer Center), Samuel Aguiar (AC Camargo Cancer Center), Rui Manuel Reis (Hospital de Câncer de Barretos), Monise Tadin Reis (Hospital de Câncer de Barretos), Luís Gustavo Romagnolo (Hospital de Câncer de Barretos), Denise Peixoto Guimarães (Hospital de Câncer de Barretos), Daniel C. Damin (Hospital de Clínicas de Porto Alegre) e Francine Hehn de Oliveira (Hospital de Clínicas de Porto Alegre).

Referência:

Díaz-Gay, M., dos Santos, W., Moody, S. et al. Geographic and age variations in mutational processes in colorectal cancer. Nature (2025). https://doi.org/10.1038/s41586-025-09025-8