A biopsia do linfonodo sentinela pode ser omitida com segurança em um grupo selecionado de pacientes com câncer de mama inicial receptor hormonal (RH) positivo, HER2-negativo, clinicamente negativo para linfonodos, sem prejuízo ao controle regional ou à sobrevida em cinco anos. Essa é a principal conclusão do estudo de fase III BOOG 2013-08, apresentado em General Session no SABCS 2025, reforçando a tendência de desescalonamento cirúrgico no tratamento da doença. “Nas últimas duas décadas, o tratamento do câncer de mama tem se voltado para a minimização dos procedimentos invasivos, preservando a segurança oncológica”, disse Marjolein Smidt (foto), professora do Centro Médico da Universidade de Maastricht, na Holanda.
A biópsia do linfonodo sentinela (SLNB, da sigla em inglês) envolve a remoção cirúrgica e análise do linfonodo mais próximo do tumor primário e é o método preferido para o estadiamento axilar no câncer de mama em estágio inicial. No entanto, evidências crescentes sugerem que a SLNB fornece principalmente informações prognósticas e raramente altera as decisões de tratamento sistêmico em pacientes cujos linfonodos não apresentaram sinais de câncer.
“Além da possibilidade de cicatrizes e desconforto decorrentes da remoção cirúrgica de alguns linfonodos, as pacientes submetidas à biopsia do linfonodo sentinela também correm o risco de apresentar efeitos colaterais a longo prazo, como linfedema”, disse Smidt.
O estudo BOOG 2013-08 (NCT02271828) é um ensaio clínico multicêntrico, de não inferioridade, randomizado, de fase 3, desenhado para avaliar se a omissão da biopsia do linfonodo sentinela em pacientes clinicamente negativas para linfonodos submetidas à terapia conservadora da mama é segura.
O estudo incluiu 1.733 pacientes com câncer de mama invasivo cT1–2 com linfonodo clinicamente negativo (cN0), submetidas à cirurgia conservadora da mama e radioterapia em 25 centros da Holanda entre 2015 e 2022. A ausência de acometimento axilar foi confirmada por exame físico e ultrassonografia pré-operatória, com biópsia quando indicada. As pacientes foram randomizadas (1:1) para o grupo que receberia biópsia do linfonodo sentinela ou para o grupo que não a realizaria.
A randomização foi estratificada por tamanho clínico do tumor (<3 cm vs. ≥3 cm), grau histológico (grau I-II vs. III), status do receptor hormonal (RH), status HER2, idade (≤50, 50 ≤ 75, >75 anos), terapia sistêmica primária (TSP) e centro participante. O desfecho primário foi a recorrência regional (RR) em 5 anos. As probabilidades cumulativas de sobrevida livre de recorrência regional (RRFS) foram estimadas utilizando o método de Kaplan-Meier. A não inferioridade foi definida como uma diferença absoluta na RR ≤5% em favor do grupo controle em 5 anos. As análises foram realizadas por protocolo.
No momento da análise, 100% dos pacientes haviam completado 3 anos de acompanhamento e 73% haviam completado 5 anos. O tempo médio de acompanhamento foi de 5,0 anos (variação de 0,78 a 6,86, intervalo interquartil de 1,94). A idade média foi de 61,5 anos, 83% apresentavam tumores cT1 e 17% tumores cT2. O grau tumoral foi I em 28,7%, II em 54,1% e III em 17,2%.
O subtipo de câncer de mama foi HR+, HER2- em 86,8%, triplo negativo em 5,8% e HER2+ em 7,4% dos pacientes. No braço SLNB, doença micrometastática e macrometastática foram detectadas em 6,0% e 7,7% dos pacientes, respectivamente.
Após um seguimento mediano de cinco anos, com 1.574 pacientes avaliáveis (SLNB: n=749; sem SLNB: n=825), as taxas de recorrência regional foram baixas em ambos os braços. A recorrência nos linfonodos regionais ocorreu em 0,5% (IC 95% 0,0-1,1) das pacientes que realizaram SLNB e em 1,2% (IC 95% 0,4-2,0) daquelas em que o procedimento foi omitido, correspondendo a uma diferença absoluta de 0,7% (IC 95% -0,3 a 1,7), não estatisticamente significativa e dentro da margem de não inferioridade.
A mediana de sobrevida livre de recorrência regional em cinco anos, que foi a medida de pacientes que não apresentaram sinais de disseminação do câncer para linfonodos distantes do tumor primário, enquanto estavam vivas, também não foi significativamente diferente entre os dois grupos — 96,6% (IC 95% 95,2-98,0) para o grupo com biópsia do linfonodo sentinela e 94,2% (IC 95% 92,4-96,0) para o grupo sem SLNB (teste log-rank p = 0,063).
Quimioterapia ou terapia endócrina foi administrada em 11,3% dos pacientes como terapia sistêmica pós-operatória (12,3% no grupo com biópsia do linfonodo sentinela vs. 10,3% no grupo sem biópsia do linfonodo sentinela, p=0,214). No total, 50,0% receberam terapia sistêmica (51,2% no grupo com biópsia do linfonodo sentinela vs. 49,0% no grupo sem biópsia do linfonodo sentinela, p=0,202). Desses 50,0%, 39,4% receberam quimioterapia com ou sem terapia-alvo. Entre os pacientes com receptor de estrogênio positivo, a terapia endócrina adjuvante foi administrada em 48,6% (grupo com biópsia do linfonodo sentinela) e 46,6% (grupo sem biópsia do linfonodo sentinela), p=0,732, enquanto a quimioterapia foi administrada em 9,8% e 8,2%, respectivamente (p=0,532).
“Este estudo mostra que podemos omitir com segurança a biópsia do linfonodo sentinela, especialmente em pacientes com câncer de mama em estágio inicial, com receptores hormonais positivos e HER2-negativo, já que 86,6% dos tumores nesta população do estudo eram desse tipo”, disse Smidt.
“Embora a terapia endócrina tenha sido prescrita com menos frequência em comparação com outros estudos semelhantes sobre a omissão da biópsia do linfonodo sentinela, o risco de recorrência ainda foi baixo no estudo até o momento. No entanto, esse grupo precisa de acompanhamento cuidadoso, devido às conhecidas recorrências tardias”, acrescentou.
“Além de ter um impacto positivo nas pacientes, a omissão da biopsia do linfonodo sentinela é custo-efetiva, resulta em menor tempo de tratamento e evita complicações, o que pode levar a melhores resultados relatados pelas pacientes e a uma recuperação mais tranquila em geral”, disse Smidt.
As limitações deste estudo incluem o acompanhamento incompleto de cinco anos para todas as participantes e a dependência da análise por protocolo, visto que a irradiação de toda a mama era a prática padrão após a cirurgia conservadora da mama na época em que o estudo foi iniciado. “As terapias de radioterapia atuais incluem protocolos diferentes, como a radioterapia parcial da mama. Com os dados deste estudo, não podemos provar que omitir a biópsia do linfonodo sentinela também seja segura quando as pacientes são tratadas com outros protocolos de radioterapia, mas podemos tentar extrapolar os resultados no futuro”, observou.
O estudo foi financiado pela Sociedade Holandesa de Câncer, pelo Sistema Central de Saúde e pela Organização Holandesa para Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde.
Referência:
GS2-11 - Publishing Title: Omission of sentinel lymph node biopsy in clinically T1-2 node-negative breast câncer patients treated with breast-conserving therapy: results of the Dutch BOOG 2013-08 randomized controlled trial after a median follow-up of 5 years - R. J. Schipper, L. M. van Roozendaal, V. M. Wintraecken, J. M. Simons, M. Moossdorff, E. J. T. Luiten, F. van Duijnhoven, L. de Munck, L. F. C. Dols, R. Koelemij, R. van Eekeren, A. B. Francken, T. van Dalen, K. Keymeulen, J. Volders, J. A. van der Hage, H. Torrenga, P. A. Neijenhuis, P. Nijhuis, D. van Uden, E. Heuts, M. A. Bessems, C. D. Dirksen, M. H. Martens, M. F. Bouwmeester, K. Schenk, A. V. R. J. Bell, S. Maaskant-Braat, L. J. A. Strobbe, S. C. Linn, P. M. P. Poortmans, M. L. G. Vane, V. C. G. Tjan-Heijnen, K. K. B. T. van der Vijver, M. B. I. Lobbes, J. de Vries, L. Emelianova-Hiddink, J. Kandt, L. J. Boersma, J. H. W. de Wilt, S. M. J. van Kuijk, M. L. Smidt, BOOG 2013-08 Study Group