Estudo apresentado em Sessão Oral no ESMO 2025 revela que o histórico reprodutivo feminino, incluindo o parto e a amamentação, reprograma de forma duradoura o sistema imune mamário, promovendo a presença sustentada de células CD8+ no tecido mamário, com impacto direto na prevenção e prognóstico do câncer de mama, especialmente o tipo triplo negativo. A oncologista Sherene Loi (foto), chefe do Laboratório de Imunologia do Câncer de Mama no Peter MacCallum Cancer Centre, em Melbourne, Austrália, é a primeira autora do trabalho.
“O parto e amamentação reduzem o risco de câncer de mama, particularmente o câncer de mama triplo negativo (TNBC), mas os mecanismos imunológicos subjacentes permanecem mal definidos. Compreender esses mecanismos pode revelar novas estratégias de prevenção e tratamento”, afirmam os autores.
O estudo integrou sequenciamento de RNA de célula única, citometria de fluxo e imagens multiplex de mais de 200 amostras normais de mama humana com modelos murinos de gestação, lactação e involução, incluindo desafios tumorais singênicos e experimentos de depleção.
Os resultados foram validados em mais de 1.000 pacientes em múltiplas coortes e conjuntos de dados públicos (incluindo TCGA e METABRIC) representando populações diversas, incluindo mulheres de risco médio, bem como portadoras de variantes da linha germinativa. As análises se concentraram na infiltração de células T CD8+, fenótipo e associações com desfechos clínicos.
Os resultados mostraram que o tecido mamário normal de mulheres que tiveram filhos continha significativamente mais células T CD8+, incluindo células de memória residente no tecido (TRM) de longa duração, que persistiam por décadas após o parto, em comparação com mulheres nulíparas.
Em modelos murinos, um ciclo completo de gestação, lactação e involução enriqueceu as células T CD8+ mamárias, conferiu proteção contra o crescimento do câncer de mama triplo-negativo (TNBC) e foi associado a um maior infiltrado de células T tumorais. Esses efeitos foram perdidos após a depleção de células T CD8+. Em pacientes, o parto e a amamentação foram associados a uma maior densidade intratumoral de células T CD8+ e à melhora da sobrevida no TNBC em estágio inicial.
“Essas descobertas mudam a maneira como vemos a imunidade no câncer de mama, reformulando-a não apenas como um alvo terapêutico, mas também como um determinante do risco de câncer. Esta mudança de paradigma destaca a reprogramação imunológica associada à história reprodutiva como uma via potencial para a prevenção e otimização da imunoterapia no câncer de mama triplo negativo (TNBC)”, concluem os autores.
O estudo foi financiado pela Breast Cancer Research Foundation (BCRF) e pelo National Health and Medical Research Council (NHMRC).
Referência:
3208O - Parity and breastfeeding enhance breast resident CD8+ T cell immunity and protect against breast cancer
Speakers: Sherene Loi (Melbourne, Australia, VIC)
Authors: Sherene Loi (Melbourne, Australia, VIC), Balaji Virassamy (Melbourne, Australia), Franco Caramia (Melbourne, Australia), Peter Savas (Melbourne, Australia, VIC), Michael Harris (Melbourne, Australia), Jia Wern Pan (Subang Jaya, Malaysia), Jianan Wang (Melbourne, Australia), Emmaline Brown (Melbourne, Australia), Roberto F. Salgado (Wilrijk, Belgium), Terry Speed (Parkville, Australia), Jane Visvader (Parkville, Australia), Paul Neeson (Melbourne, Australia), Phil Darcy (Melbourne, Australia), Laura Mackay (Melbourne, Australia)
Proffered Paper session Basic science 2 - From bench to bedside: Emerging discoveries shaping oncology practice
Room Hanover Auditorium - Hall 7.2c
Date Sun, 19.10.2025
Lecture Time 14:45 - 14:55