Análise do estudo de Fase III FLAURA2 reforça que a combinação de osimertinibe + quimioterapia à base de platina e pemetrexede como tratamento de primeira linha mantém resulta em sobrevida global significativamente maior em comparação com a monoterapia com osimertinibe em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) avançado EGFR-mutado, mesmo em pacientes com fatores basais de pior prognóstico como metástases no sistema nervoso central (SNC), mutação L858R, mutações detectáveis em plasma e alterações no TP53. Os resultados foram apresentados pelo oncologista Pasi A. Jänne (foto), do Dana-Farber Cancer Institute, e publicados simultaneamente na New England Journal of Medicine (NEJM).
Neste ensaio clínico aberto, internacional, de Fase 3, pacientes com CPCNP avançado com mutação no gene EGFR (deleção do éxon 19 ou mutação L858R) que não haviam recebido tratamento prévio para doença avançada foram randomizados (1:1) para receber osimertinibe (80 mg uma vez ao dia) mais quimioterapia com pemetrexede (500 mg por metro quadrado de superfície corporal) e um agente à base de platina (cisplatina [75 mg por metro quadrado] ou carboplatina [dose farmacologicamente guiada]) ou monoterapia com osimertinibe (80 mg uma vez ao dia).
Foram randomizados 557 pacientes, 279 pacientes para o grupo osimertinibe mais platina-pemetrexede (279 pacientes) e 278 pacientes para o grupo monoterapia com osimertinibe.
O endpoint primário já havia demonstrado benefício em sobrevida livre de progressão (SLP). A mediana de sobrevida global, endpoint secundário chave do estudo, foi de 47,5 meses no grupo osimertinibe mais platina-pemetrexede e de 37,6 meses no grupo monoterapia com osimertinibe (razão de risco para óbito de 0,77; intervalo de confiança de 95%, 0,61 a 0,96; P = 0,02).
Estudos anteriores em CPCNP com mutação de EGFR identificaram fatores basais associados a pior prognóstico, como metástases no sistema nervoso central (mets), mutação L858R, EGFRm plasmático detectado (det) e TP53 alterado. No ESMO 2025, foram relatadas análises de sobrevida global do estudo com base em fatores prognósticos basais.
Os pacientes foram submetidos a tomografia computadorizada/ressonância magnética (TC/RM) no baseline para avaliação do sistema nervoso central. O tipo de EGFRm tecidual foi testado por meio de ensaios aprovados central ou localmente. O status do EGFRm plasmático foi avaliado por PCR digital em gotas (Biodesix), e o TP53 tecidual foi avaliado pelo teste FoundationOne CDx. A sobrevida global do subgrupo foi analisada por meio de um modelo de riscos proporcionais de Cox não estratificado.
A proporção de pacientes em cada subgrupo prognóstico foi geralmente semelhante entre os braços de tratamento (Tabela). As HRs para SG favoreceram osimertinibe + CTx versus osimertinibe em monoterapia em cada subgrupo prognóstico e foram consistentes com a HR para a população geral (0,77).
A mediana de SG (mOS) foi não alcançada (NR) para vários subgrupos; no entanto, a mOS foi maior com OSI + CTx versus OSI mono em subgrupos com fatores prognósticos basais mais desfavoráveis (ou seja, metástases no SNC, mutação L858R, EGFRm plasmático det ou TP53 alterado).
Eventos adversos de grau 3 ou superior, de qualquer causa, foram relatados em 70% dos pacientes no grupo osimertinibe mais platina-pemetrexede e em 34% dos pacientes no grupo monoterapia com osimertinibe; eventos adversos que levaram à descontinuação do osimertinibe foram relatados em 12% e 7%, respectivamente.
Em síntese, entre os pacientes com CPCNP avançado com mutação do gene EGFR, o tratamento de primeira linha com osimertinibe mais platina-pemetrexede levou a uma sobrevida global significativamente maior do que a monoterapia com osimertinibe e foi associado a um risco aumentado de eventos adversos reversíveis de grau 3 ou superior. “Um benefício de sobrevida favorecendo osimertinibe + quimio foi consistentemente observado em cada subgrupo prognóstico avaliado, reforçando a combinação como um padrão de tratamento de primeira linha neste cenário”, concluem os autores.
O estudo é financiado pela AstraZeneca e está registrado no ClinicalTrials.Gov, NCT04035486.
Table: LBA77
Osi + CTx | Osi mono | HR (95% CI) | |||
Events/pts, n | mOS, mo (95% CI) | Events/pts, n | mOS, mo (95% CI) | ||
Baseline CNS mets | |||||
Yes | 71/116 | 40.9 (35.2, 46.6) | 79/110 | 29.7 (25.6, 35.8) | 0.72 (0.52, 0.99) |
No | 73/163 | NR (45.0, NC) | 92/168 | 43.9 (37.8, 53.3) | 0.77 (0.57, 1.05) |
EGFRm | |||||
L858R | 66/106 | 38.1 (33.4, 42.0) | 74/107 | 32.4 (28.0, 37.6) | 0.76 (0.55, 1.07) |
Ex19del | 78/172 | NR (47.2, NC) | 95/169 | 43.0 (35.7, 51.9) | 0.76 (0.56, 1.02) |
Plasma EGFRm | |||||
Det | 88/148 | 38.4 (33.2, 46.6) | 114/161 | 32.5 (28.8, 35.8) | 0.79 (0.60, 1.03) |
Undet | 24/65 | NR (50.8, NC) | 21/48 | NR (46.0, NC) | 0.79 (0.44, 1.44) |
Tissue TP53 | |||||
Altered | 22/46 | 51.1 (35.0, NC) | 25/40 | 43.1 (34.0, 50.1) | 0.71 (0.40, 1.27) |
Wild type | 11/33 | NR (46.6, NC) | 14/34 | NR (41.3, NC) | 0.70 (0.32, 1.54) |
NC, not calculable
Referência:
Jänne PA, Planchard D, Kobayashi K, Yang JC, Liu Y, Valdiviezo N, Kim TM, Jiang L, Kagamu H, Yanagitani N, Wang J, Biswas B, Poltoratskiy A, Neron Y, Rojas C, Koubkova L, Escriu C, Ezeife DA, Mann H, Armenteros-Monterroso E, Rukazenkov Y, Lee CK; FLAURA2 Investigators. Survival with Osimertinib plus Chemotherapy in EGFR-Mutated Advanced NSCLC. N Engl J Med. 2025 Oct 17. doi: 10.1056/NEJMoa2510308. Epub ahead of print. PMID: 41104938.