Estudo brasileiro selecionado para apresentação em pôster no ESMO 2025 avaliou uma situação desafiadora na oncologia: o manejo do câncer de mama metastático (CMM) durante a gestação. Os resultados relatam a experiência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) entre 2013 e 2025 e revelam que a quimioterapia pode ser uma alternativa viável e segura para tratar a mãe sem comprometer significativamente os desfechos neonatais.
O estudo incluiu todas as gestantes com câncer de mama metastático admitidas na instituição entre 2013 e 2025. A casuística incluiu 20 pacientes com diagnóstico de câncer de mama metastático durante a gravidez, com idade média de 35 anos (variação entre 23 e 43 anos). A maioria dos tumores era do tipo carcinoma ductal invasivo (17/20, 85%), com diferentes perfis moleculares: luminal A (2), luminal B (3), HER2-positivo (3) e basal-like (6). Também foram identificados casos raros, como carcinoma papilífero invasivo (1) e tumor filoide maligno (1).
Os programas Excel e GraphPad PRISM foram utilizados para analisar os desfechos oncológicos, obstétricos e neonatais. A sobrevida global foi estimada pelo método de Kaplan-Meier.
Dos 20 casos, 13 pacientes receberam quimioterapia durante a gestação, com esquemas variados — doxorrubicina+ciclofosfamida (AC) [6/13], paclitaxel (T) [2], AC+T [2], AC+5-fluorouracil [1], carboplatina+T [1], vinorelbina [1]. As drogas foram administradas a partir do segundo trimestre, respeitando as diretrizes de segurança materno-fetal. Sete pacientes não receberam tratamento quimioterápico durante a gravidez, sendo que uma delas utilizou terapia hormonal (exemestano+leuprorrelina) até a 12ª semana.
Em relação aos desfechos obstétricos e neonatais, duas pacientes foram submetidas à interrupção terapêutica (6 e 18 semanas), e houve dois natimortos: um na 25ª semana (devido a hipercalcemia maligna e insuficiência respiratória materna), e outro na 35ª semana (associado à diabetes gestacional e polidrâmnio). Dezesseis gestações evoluíram para parto (10 cesáreas, 6 vaginais). A idade gestacional média no parto foi de 34,1 semanas (28-38,1) e o peso médio ao nascer foi de 1.931 g (955-2.750), sem malformações. Todos os recém-nascidos receberam alta após o atendimento neonatal.
A sobrevida global após o diagnóstico de metástases foi de 72,4% em 12 meses, 65,8% em 24 meses e 45,1% em 36 meses. O tempo mediano de acompanhamento foi de 12,7 meses (4,8-110,3). Onze pacientes (55%) evoluíram a óbito por progressão da doença, cinco (25%) abandonaram o tratamento e quatro (20%) estavam em seguimento ativo no momento da análise.
Os autores concluem que o cuidado multidisciplinar em centros terciários, com suporte oncológico, obstétrico e neonatal integrado, é essencial para otimizar os desfechos maternos e fetais em casos de câncer de mama metastático na gestação. O estudo reforça que a quimioterapia pode ser uma alternativa segura após o primeiro trimestre, permitindo o controle da doença e reduzindo o risco de prematuridade extrema.
"Trata-se de uma condição rara e complexa, mas os dados indicam que é possível tratar o câncer de mama metastático sem interromper a gestação, desde que com acompanhamento especializado", concluem.
O estudante de medicina da FMUSP Allan I. Strauss é o primeiro autor do trabalho, que conta com participação dos pesquisadores Ângela Francisca Trinconi da Cunha, Laura Testa, Henrique Barata Ferreira, Gabriella Ferreira Demarque, Maria Del Pilar Estevez Diz, Rossana Pulcineli Vieira Francisco e Eliane Azeka Hase.
Referência:
591P - Metastatic breast cancer in pregnancy: Treatment and maternal-neonatal outcomes
Speakers: Allan I. Strauss (Sao Paulo, Brazil)
Authors: Allan I. Strauss (Sao Paulo, Brazil), Ângela Francisca Trinconi da Cunha (Sao Paulo, Brazil), Laura Testa (Sao Paulo, Brazil), Henrique Barata Ferreira (Sao Paulo, Brazil), Gabriella Ferreira Demarque (Sao Paulo, Brazil), Maria Del Pilar Estevez Diz (Sao Paulo, Brazil), Rossana Pulcineli Vieira Francisco (Sao Paulo, Brazil), Eliane Azeka Hase (Sao Paulo, Brazil)