A incidência de cânceres de início precoce no Brasil aumentou 219% entre 2000 e 2019, com o câncer de mama como a principal neoplasia maligna. É o que mostra estudo de Luís Carlos Lopes-Júnior (foto), docente e líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Oncologia (GEPONC/CNPq) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), selecionado em pôster no ASCO 2025. O trabalho analisa tendências temporais nas taxas de incidência de câncer de início precoce (<45 anos), além de explorar associações entre variáveis clínicas e demográficas.
A crescente incidência de cânceres de início precoce (<45 anos) desde a década de 1990 representa um desafio global de saúde pública. No Brasil, os Registros Hospitalares de Câncer (RHC) fornecem dados importantes para a compreensão da epidemiologia do câncer, abrangendo diagnóstico, tratamento e desfechos.
Neste estudo de coorte retrospectivo, Lopes-Junior e colegas utilizaram dados do sistema de todos os RHCs brasileiros (SIS-RHC). Foram incluídos indivíduos com idade entre 19 e 44 anos, diagnosticados com neoplasias malignas (CID-10) e atendidos na rede oncológica brasileira. As tendências temporais na incidência de câncer (2000-2019) foram avaliadas pelo teste de Mann-Kendall, e análises bivariadas exploraram associações entre variáveis demográficas e clínicas.
Foram incluídos 701.115 indivíduos (idade média: 35 anos, DP: 6,62), predominantemente mulheres 71,9%), não branca (54%), com ensino fundamental (49%) e residentes na região Sudeste (44%). A presença de história familiar de câncer foi relatada por 47%, consumo de álcool por 28% e tabagismo por 29%.
O Sistema Único de Saúde (SUS) encaminhou 79% dos casos. Os pesquisadores descrevem que cânceres de mama (21%) e de colo do útero (21%) foram as neoplasias malignas mais prevalentes, seguidos pelos cânceres de pele não melanoma (8,8%) e de tireoide (7,3%). O câncer de cólon ficou em sétimo lugar (2,8%).
Em relação ao estágio clínico, a maioria dos casos foi diagnosticada em estágios localizados (51,7%), com 28,3% em estágios regionais e 19,8% em estágios metastáticos. “Os diagnósticos localizados aumentaram significativamente ao longo do tempo”, destaca a análise. Diferenças entre os sexos foram observadas entre as faixas etárias e os estágios do câncer (p < 0,001).
Os resultados mostram que os casos de câncer aumentaram significativamente de 93.714 casos entre 2000 e 2004 para 222.301 casos de 2015 a 2019 (p < 0,001). As taxas de incidência (TI) aumentaram com a idade e ao longo do tempo, passando de 5,65 (idades de 19 a 24 anos) e 46,80 (idades de 40 a 44 anos) em 2000 para 12,28 e 77,11 em 2019. Picos de incidência foram observados em 2014 e 2016, atingindo 17,41 (idades de 19 a 24 anos) e 111,42 (idades de 40 a 44 anos). No geral, os casos notificados aumentaram 219% durante o período do estudo, analisam os pesquisadores.
“Esses achados destacam a crescente carga do câncer entre populações jovens e reforçam a necessidade urgente de sistemas de registro oncológico mais robustos, capazes de subsidiar intervenções direcionadas aos cânceres de início precoce”, concluem os autores, que recomendam estudos populacionais ampliados que validem e aprofundem esses resultados, contribuindo para a formulação de políticas de saúde mais eficazes e equitativas.
Além de Lopes-Junior, reconhecido como Produtividade em Pesquisa do CNPq (PQ-2), o estudo conta com a participação dos pesquisadores Vitor Fiorin de Vasconcellos e Wesley R. Grippa - ambos pesquisadores do GEPONC – que contribuíram na concepção do estudo, bem como na análise e interpretação dos dados, além de Raphael Pessanha, Oscar Geovanny Enriquez-Martinez, Jonathan Grassi e Luiz Claudio Barreto Silva Neto.
O manuscrito completo encontra-se em fase final de preparação para submissão ao periódico The Lancet Oncology.
Referência:
Early-onset (EO) cancer trends in Brazil: A comprehensive analysis of hospital-based cancer registry data (2000–2019)
Principal Investigator (P.I): Prof. Dr. Luís Carlos Lopes Júnior.
Meeting: 2025 ASCO Annual Meeting
Session Type: Poster Session
Session Title: Prevention, Risk Reduction, and Genetics
Track: Prevention, Risk Reduction, and Genetics
Sub Track: Etiology/Epidemiology
DOI: 10.1200/JCO.2025.43.16_suppl.10552
Abstract #10552
Poster Bd # 277