Os resultados do ensaio clínico de fase 3 SERENA-6 apresentados no ASCO 2025 demonstram que a troca para camizestranto, caso uma mutação ESR1 seja detectada durante o tratamento de primeira linha, pode ajudar a retardar o crescimento do câncer de mama avançado em pacientes com tumores que expressam receptor hormonal (HR positivo), com HER2 negativo. “Os resultados do SERENA-6 representam importante avanço e o potencial de estabelecer nova estratégia de tratamento para melhorar os resultados de primeira linha para os pacientes”, disse o principal autor, Nicholas C. Turner (foto), do Royal Marsden Hospital, em Londres, Reino Unido. O estudo teve publicação simultânea na New England Journal of Medicine (NEJM).
Camizestranto é um potente degradador seletivo do receptor de estrogênio (SERD), destacado como o primeiro e único SERD oral de última geração e antagonista completo do receptor de estrogênio a demonstrar benefício de primeira linha em combinação com inibidores de ciclinas (CDK4/6) no tratamento do câncer de mama HR-positivo.
SERENA-6 é o primeiro estudo global, duplo-cego de Fase III a utilizar uma abordagem guiada por DNA tumoral circulante (ctDNA) para detectar o surgimento de resistência endócrina e orientar a mudança de terapia antes da progressão da doença. O desenho inovador do estudo utilizou o monitoramento por ctDNA para identificar os pacientes quanto a sinais precoces de resistência endócrina e o surgimento de mutações no ESR1. Após a detecção de uma mutação no ESR1 sem progressão da doença, a terapia endócrina dos pacientes foi alterada, substituindo o uso de IA pelo tratamento com camizestranto, enquanto a combinação com o mesmo inibidor de CDK4/6 continuava.
Neste estudo internacional (NCT04964934) foram consideradas inicialmente 3.256 pacientes com câncer de mama avançado HR-positivo e HER2-negativo que haviam recebido pelo menos 6 meses de tratamento com IA (letrozol ou anastrozol) e um inibidor de CDK4/6 (palbociclibe, ribociclibe ou abemaciclibe. As pacientes tiveram seu DNA tumoral circulante (ctDNA) testado para mutações ESR1 a cada 2 a 3 meses, até que 315 pacientes desenvolveram mutações ESR1 antes da progressão da doença. Esses 315 pacientes foram então randomizados para trocar o tratamento com IA por camizestranto, continuando com o inibidor de CDK4/6 e adicionando placebo no lugar do IA (n=157 pacientes) ou continuar o tratamento com IA e um inibidor de CDK4/6, adicionando placebo no lugar de camizestranto (n=158 pacientes).
O desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão (SLP) avaliada pelo investigador; desfechos secundários incluíram sobrevida global (SG) e segunda sobrevida livre de progressão (SLP2), segundo avaliação do investigador.
Os resultados mostram que a mediana da sobrevida livre de progressão (SLP) foi de 16 meses para pacientes que mudaram para camizestranto versus 9,2 meses para aqueles que continuaram o tratamento com inibidor de aromatase. Em 1 ano, a taxa de SLP foi de 60,7% no grupo tratado com camizestranto vs. 33,4% no grupo que recebeu IA. Em 2 anos, a taxa de SLP foi de 29,7% no grupo de camizestranto vs. 5,4% no grupo de IA.
“A abordagem de troca precoce do ensaio clínico SERENA-6 resultou em redução de 56% no risco de progressão da doença ou morte para pacientes que mudaram para o tratamento com camizestranto, prolongando o tempo de permanência na terapia de primeira linha. Camizestranto ainda não foi aprovado pela FDA, mas esses dados provavelmente abrirão caminho para um novo paradigma de tratamento na terapia de primeira linha para câncer de mama avançado HR-positivo e HER2-negativo”, disse Eleonora Teplinsky, chefe do Serviço de Oncologia Médica de Mama e Ginecologia do Valley-Mount Sinai Comprehensive Cancer Care, que comentou os resultados a pedido da organização do ASCO 2025.
“Após a progressão da doença à terapia de primeira linha para câncer de mama avançado HR-positivo, existem diversas opções de tratamento. No entanto, seus benefícios são limitados; a qualidade de vida diminui e as taxas de sobrevida são baixas. Os pacientes têm uma necessidade urgente de novos tratamentos que possam prolongar o tempo de terapia de primeira linha e retardar a progressão da doença”, disse Nicholas C. Turner, para quem os resultados do ensaio SERENA-6 mostram que a troca de um IA por camizestranto em combinação com qualquer um dos três inibidores de CDK4/6 após o surgimento de uma mutação ESR1 retarda a progressão da doença e amplia o benefício do tratamento de primeira linha, representando avanço importante para os pacientes e potencial mudança na prática clínica.
O benefício de sobrevida global de camizestranto ainda está pendente, pois os dados de SG estavam imaturos no momento da análise.
Os efeitos colaterais para os pacientes do grupo de camizestranto foram consistentes com os efeitos colaterais previamente conhecidos do medicamento. Não foram identificadas novas preocupações de segurança e as descontinuações foram muito baixas e semelhantes em ambos os braços (1,3% no grupo de camizestranto vs. 1,9% no grupo de inibidor da aromatase).
Referência:
Abstract LBA4: Camizestrant + CDK4/6 inhibitor (CDK4/6i) for the treatment of emergent ESR1 mutations during first-line (1L) endocrine-based therapy (ET) and ahead of disease progression in patients (pts) with HR+/HER2– advanced breast cancer (ABC): Phase 3, double-blind ctDNA-guided SERENA-6 trial.
First Author: Nicholas Turner
Meeting: 2025 ASCO Annual Meeting
Session Type: Plenary Session
Session Title: Plenary Session
Track: Special Sessions
Sub Track: Hormone Receptor-Positive
Clinical Trial Registration Number: NCT04964934
Citation: J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 17; abstr LBA4)
DOI: 10.1200/JCO.2025.43.17_suppl.LBA4
Abstract: #LBA4