Estudo de coorte prospectivo brasileiro selecionado para apresentação em pôster no ASCO 2025 avaliou a prevalência de disfunção sexual antes do início da terapia sistêmica em homens diagnosticados com tumores sólidos. “A prevalência de disfunção sexual moderada a completa foi de 22,2% nesta coorte, taxa superior à observada na população masculina brasileira em geral”, destacam os pesquisadores. Os oncologistas Mario Lopes, Leonardo Gil Santana e Mariana Carvalho compartilham a primeira autoria do trabalho; o oncologista Vladmir Claudio Cordeiro de Lima (foto) é o autor sênior do trabalho.
A saúde sexual impacta significativamente a qualidade de vida, porém sua relação com os tratamentos sistêmicos do câncer em homens permanece pouco explorada, principalmente fora dos estudos focados no câncer de próstata. No Brasil, a prevalência de disfunção sexual moderada a completa entre homens é de aproximadamente 14,5%.
Este estudo avaliou a prevalência de disfunção sexual antes do início da terapia sistêmica em homens diagnosticados com tumores sólidos utilizando a ferramenta Quociente Sexual Masculino (MSQ, da sigla em inglês - Male Sexual Quotient).
Foram incluídos pacientes do sexo masculino, sexualmente ativos e sem tratamento prévio com tumores sólidos, excluindo aqueles com câncer de próstata, metástases cerebrais ativas, compressão espinhal ou irradiação pélvica/cirurgia pélvica extensa prévia para câncer retal ou de bexiga.
A função sexual no baseline foi avaliada utilizando o MSQ, que avalia cinco domínios: ejaculação precoce, disfunção erétil, desejo sexual hipoativo, frequência de orgasmos e insatisfação com a atividade sexual. Uma pontuação global no QSM ≤ 60 definiu disfunção sexual moderada a completa.
Foram medidos perfis hormonais, incluindo testosterona, FSH e LH. A Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS) foi utilizada para identificar riscos de ansiedade ou depressão.
Entre outubro de 2023 e dezembro de 2024, foram incluídos 73 pacientes do sexo masculino (idade mediana de 58 anos, IIQ 47,5-68,0); 78% eram casados e 75% tinham performance status ECOG de 0.
Ao diagnóstico, 34% apresentaram metástase, incluindo 19% com envolvimento visceral. Os locais primários de câncer incluíram cabeça e pescoço (25%), colorretal (19,1%), pulmão (15%), melanoma (8,2%) e rim (8,2%). Os regimes de tratamento incluíram quimioterapia (76%), imunoterapia (31,5%) e terapia-alvo (9,5%). A maioria dos pacientes (83%) não apresentou risco de ansiedade ou depressão segundo a HADS, com um paciente apresentando alto risco.
Disfunção sexual moderada a completa foi observada em 22,2% dos pacientes, índice superior ao da população masculina brasileira em geral. Os domínios mais afetados foram desejo sexual hipoativo, ejaculação precoce e disfunção erétil. Apesar desses achados, os níveis hormonais medianos estavam dentro da faixa normal: testosterona (356 ng/dL, IIQ 300-468), FSH (64 mUI/mL, IIQ 29-93) e LH (39 mUI/mL, IIQ 28-52).
Em síntese, a prevalência de disfunção sexual moderada a completa foi de 22,2% nesta coorte, taxa superior à observada na população masculina brasileira em geral. “A avaliação da qualidade de vida sexual em homens com câncer em tratamento sistêmico é frequentemente negligenciada. Esses dados apontam para a necessidade de desenvolver novas políticas e estudos para aumentar a conscientização sobre essa questão crítica”, concluem os autores.
Além de Mario Lopes, Leonardo Gil Santana, Mariana Carvalho e Vladmir Lima, o estudo contou com a participação dos pesquisadores Matheus Barroso, Juliana Souza, João de Souza, Luigi Valladares, Diego da Cruz, Lucas Gouvêa, Carmita Abdo e Aldo Dettino.
Referência:
Prevalence of sexual dysfunction among men with cancer before the initiation of systemic treatment.
First Author: Mario Lopes
Meeting: 2025 ASCO Annual Meeting
Session Type: Poster Session
Session Title: Symptom Science and Palliative Care
Track: Symptom Science and Palliative Care
Sub Track: Late and Long-Term Adverse Effects
DOI: 10.1200/JCO.2025.43.16_suppl.12049
Abstract #12049
Poster Bd #69