Mulheres sobreviventes de câncer tiveram 69% mais probabilidade de apresentar fadiga relacionada ao câncer e 58% mais probabilidade de apresentar depressão do que homens sobreviventes, como aponta estudo retrospectivo apresentado na Reunião Anual de 2025 da Associação Americana para Pesquisa do Câncer (AACR), realizada de 25 a 30 de abril. Os resultados foram apresentados por Simo Du (foto), residente do NYC Health + Hospitals/Jacobi e do Albert Einstein College of Medicine.
Ao contrário da fadiga típica, a fadiga relacionada ao câncer não desaparece com o repouso e pode persistir por semanas, meses ou até anos, explicou Du.
Du e colegas analisaram dados dos ciclos de 2015-2016 e 2017-2020 da Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição (NHANES), que coleta anualmente informações sobre a saúde e a dieta de adultos e crianças nos Estados Unidos, incluindo uma seção sobre depressão e ansiedade. Respostas de 1.555 sobreviventes de câncer foram incluídas na análise, que representa 25 milhões de sobreviventes de câncer nos Estados Unidos, com base na metodologia de amostragem utilizada. O modelo amostral também foi ajustado para idade, raça, nível socioeconômico e comorbidades. A capacidade dos sobreviventes de câncer de realizar atividades relacionadas ao trabalho ou ao lazer foi usada como indicador de qualidade de vida.
Os resultados mostram que mulheres sobreviventes de câncer tiveram 69% mais probabilidade de apresentar fadiga relacionada ao câncer (OR =1.69, 95% CI: 1.24-2.31, p < 0.001) e probabilidade 58% maior de apresentar depressão comparada aos homens sobreviventes (OR = 1.58, 95% CI: 1.10-2.26, p = 0.014). Enquanto as mulheres pontuaram mais alto na maioria das métricas de depressão, os homens pontuaram mais alto em um item: "ter pensamentos de que seria melhor morrer", o que, segundo o pesquisador poderia destacar potencial aumento no risco de suicídio.
As razões por trás dessas diferenças são provavelmente multifatoriais. “As mulheres têm maior probabilidade de apresentar efeitos colaterais da quimioterapia, radioterapia e do uso prolongado de tratamentos endócrinos. Isso pode ser resultado da depuração mais lenta do medicamento, que leva a concentrações mais altas e maior toxicidade, a uma resposta imunológica mais forte que pode aumentar os efeitos colaterais inflamatórios e a diferenças na composição corporal que podem afetar a distribuição do medicamento e a dosimetria da radiação”, explicou Du. Os papéis sociais também interferem. As mulheres geralmente assumem maiores responsabilidades de cuidado, o que pode influenciar o desenvolvimento e a experiência da fadiga relacionada ao câncer.
Entre todos os sobreviventes de câncer, aqueles que relataram fadiga relacionada ao câncer tiveram 83% mais probabilidade de reduzir a quantidade de atividades recreativas moderadas, como caminhadas rápidas, ciclismo de lazer e jardinagem leve (OR = 1.83, 95% CI: 1.26-2.66, p = 0.002). Aqueles que relataram depressão tiveram 65% mais probabilidade de reduzir tanto as atividades recreativas moderadas quanto as vigorosas, como corrida leve, caminhadas em terrenos íngremes e trabalho intensivo no quintal (OR =1.65, 95% CI: 1.05-2.58, p = 0.02). Nem a depressão nem a fadiga relacionada ao câncer impactaram significativamente as atividades relacionadas ao trabalho.
"Nossos achados destacam a importância de fornecer atenção especial e intervenções personalizadas, como programas de exercícios, grupos de apoio e técnicas comportamentais mente-corpo para grupos vulneráveis, para ajudar a gerenciar a fadiga de forma eficaz e melhorar a participação em atividades recreativas, que são um aspecto essencial da qualidade de vida", disse Du.
Uma limitação do estudo é o uso de dados autorrelatados; mulheres podem superestimar os sintomas de fadiga, enquanto homens podem subestimar os sintomas de depressão, apesar dos protocolos padronizados projetados para minimizar esses vieses.
Referência:
Sex disparity in cancer-related fatigue, depression, and impact on quality of life among cancer survivors: Insights from NHANES
Session Type: Poster Session
Session Title: Survivorship Research
Location: Section 44
Session Time: Tuesday, April 29, 2025, 9:00 am - 12:00 noon
Presentation Number: 4989
Poster Board Number: 3