Alessandra Brandão de Souza (foto), Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é primeira autora de estudo selecionado para apresentação em pôster no AACR 2025 que busca caracterizar a contribuição de características histopatológicas bem conhecidas, em combinação com aspectos clínicos e sociodemográficos, para a avaliação prognóstica dos desfechos de sobrevida em uma coorte de mulheres brasileiras com carcinoma de mama primário unilateral e não metastático.
O câncer de mama é atualmente a segunda neoplasia mais comum no mundo e a principal causa de morte por câncer entre mulheres. Os avanços no tratamento baseados na classificação molecular dos tumores têm contribuído para a redução da mortalidade em muitos países desenvolvidos. No entanto, a crescente incidência mundial impõe desafios adicionais para ajustar a avaliação prognóstica às mudanças nos perfis epidemiológicos em diferentes populações.
Este estudo avalia uma coorte prospectiva atual de mulheres brasileiras com carcinoma de mama primário unilateral e não metastático, diagnosticadas e que iniciaram tratamento entre 2009 e 2013 no Instituto Nacional de Câncer (INCA nº 129/08). No AACR 2025 foram apresentadas as primeiras análises após completar dez anos de acompanhamento.
As curvas de sobrevida foram estimadas pelo método de Kaplan-Meier, e o impacto de variáveis individuais nas taxas de sobrevida livre de doença ou global foi estimado pelo cálculo de suas razões de risco (RR) e intervalos de confiança de 95% (IC 95%). Modelos multivariados de regressão de riscos proporcionais de Cox foram utilizados para calcular a RR ajustada (RRaj) e os respectivos IC 95%.
O acompanhamento total das pacientes foi de 152.832 pessoas-mês, com um tempo mediano de acompanhamento por pessoa de 12,5 anos (anos). A sobrevida livre de doença (SLD) foi de 80,2% (5 anos) e 64,8% (10 anos), com mediana de 99 meses (IC 95% 97,8-102,0). A sobrevida global (SG) foi de 83,1% (5 anos) e 69,6% (10 anos), com mediana de 98 meses (IC 95% 96,0-100,7).
O estadiamento tumoral ≥ IIb e a classificação molecular como HER-2 ou triplo-negativo foram prognósticos tanto de sobrevida livre de doença quanto de sobrevida global, tanto para os modelos de 5 anos quanto de 10 anos. Além disso, a obesidade foi significativamente associada a uma pior sobrevida livre de doença (HRadj = 1,554; IC 95% 1,021 - 2,365) e contribuiu marginalmente para a sobrevida global (HRadj = 1,545; IC 95% 0,998 - 2,391), mas apenas em modelos de 5 anos.
Em contraste, os modelos de 10 anos indicaram piores desfechos para pacientes que se autodeclararam pretos ou pardos: HRadj = 1,365 (IC 95% 1,048 - 1,777) para sobrevida livre de doença ou HRadj = 1,511 (IC 95% 1,051 - 2,171) para sobrevida global.
“Não está claro como a cor/raça afeta a sobrevida em nossa coorte, visto que não foram encontradas diferenças significativas nas características clínicas ou histopatológicas no momento do diagnóstico”, observam os autores.
“Atualmente, estamos incluindo dados de polimorfismos genéticos como uma tentativa de encontrar novos biomarcadores moleculares que possam melhorar a avaliação prognóstica do câncer de mama”, concluem.
Além de Alessandra Brandão de Souza, o estudo tem participação das pesquisadoras Daniely R. Freitas-Alves, Taiana S. L. Da Silva, Vanessa Índio-do-Brasil e Rosane Vianna-Jorge.
Referência:
4014 / 4 - Prognostic evaluation of breast cancer long-term survival outcomes: contributions from a Brazilian hospital-based cohort
Presenter/Authors - Alessandra B. De Souza, Daniely R. Freitas-Alves, Taiana S. L. Da Silva, Vanessa Índio-do-Brasil, Rosane Vianna-Jorge. Oswaldo Cruz Foundation, Rio de Janeiro, Brazil, National Cancer Institute, Rio de Janeiro, Brazil, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil