Em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista Andre Murad (foto) aborda a transição epitelial-mesenquimal (TEM), processo em que as células epiteliais perdem sua adesão e polaridade célula-célula, tornando-se mais mesenquimais, com implicações na progressão e metástase do câncer. Confira.
Por André Marcio Murad*
- As células epiteliais são tipicamente organizadas em camadas, unidas por junções oclusivas, junções aderentes e desmossomos. Essas células também aderem à membrana basal por meio de hemidesmossomos. Sua polaridade apical-basal e adesão célula-célula são mantidas por moléculas associadas ao estado epitelial.
- A indução TEM ativa fatores de transcrição indutores de EMT (TEM-TFs), incluindo ZEB, SNAIL e TWIST. Esses fatores suprimem a expressão de genes associados ao epitélio, enquanto ativam genes ligados ao estado mesenquimal.
- Essa mudança na expressão gênica leva a alterações celulares significativas. As junções epiteliais se desintegram e a polaridade apical-basal se dissolve, em parte devido à repressão de proteínas reguladoras das junções estreitas, como CRUMBS, PATJ (proteína de junção estreita associada à PALS1) e LGL.
- As características epiteliais são progressivamente perdidas, as células adquirem características mesenquimais. Em muitos casos, isso resulta em uma transição parcial, na qual algumas características epiteliais são preservadas. Sob certas condições, as células podem adotar um fenótipo totalmente mesenquimal.
- As células mesenquimais exibem polaridade de frente para trás, um citoesqueleto reorganizado e expressam um conjunto distinto de moléculas e EMT-TFs que sustentam sua identidade mesenquimal. Essas células também ganham motilidade e potencial invasivo.
É importante ressaltar que a EMT é um processo reversível. Células que passaram por EMT podem retornar ao estado epitelial por meio da transição mesenquimal-epitelial (MET). Tanto a EMT quanto a MET desempenham papéis no desenvolvimento normal, bem como na progressão do câncer.

*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da Clínica OncoLavras