A heterogeneidade intratumoral imune (HII imune) refere-se à variabilidade nas características relacionadas ao sistema imunológico em diferentes regiões do mesmo tumor. “Isso inclui diferenças na infiltração de células imunes, níveis de expressão de PD-L1 e clonalidade do receptor de células T (TCR) entre os locais do tumor”, explica o oncologista André Murad (foto), em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’.
Por André Marcio Murad*
Esses fatores relacionados ao sistema imunológico interagem com o tumor de maneiras complexas, criando um microambiente imunológico diverso e frequentemente imprevisível. Essa heterogeneidade pode limitar a eficácia do sistema imunológico em reconhecer e atacar células cancerígenas de maneira uniforme.
A HII imune é moldada tanto por elementos intrínsecos ao tumor, como mutações genéticas e sinalização oncogênica, quanto por influências extrínsecas ao tumor. Fatores extrínsecos incluem alterações no estroma tumoral, fibroblastos associados ao câncer (FACs), vasos sanguíneos e a presença de estruturas como estruturas linfoides terciárias (ELTs).
A resposta imune a tumores pode ser compreendida considerando duas variáveis-chave: carga mutacional tumoral (TMB) e HII imune. TMB refere-se ao número de mutações no DNA tumoral, que podem gerar neoantígenos reconhecidos pelas células T.
Tumores com alta carga clonal de neoantígenos — ou seja, com alta TMB e baixa HII imune — têm maior probabilidade de serem alvos eficazes de imunoterapias, como inibidores de checkpoint. Esses tumores apresentam alvos antigênicos consistentes para o sistema imunológico, aumentando as chances de uma resposta sustentada.
Por outro lado, tumores com alta HII imune e menos neoantígenos compartilhados frequentemente escapam da detecção imunológica e são mais resistentes à imunoterapia.
Compreender e medir a heterogeneidade intratumoral imune (HII imune) é crucial para melhorar a estratificação dos pacientes e elaborar estratégias imunoterapêuticas mais eficazes.
*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da Clínica OncoLavras