Onconews - Pesquisa retrata 20 anos da epidemiologia do câncer de mama em São Paulo e padrões de tratamento

“A sobrevida global em pacientes com câncer de mama em São Paulo melhorou ao longo do tempo. No entanto, lacunas significativas no tratamento e intervalos crescentes entre o diagnóstico e o tratamento sugerem barreiras sistêmicas à prestação ideal de cuidados”, destaca estudo publicado no Lancet Regional Health Americas, com participação dos brasileiros Fernanda Malucelli Favorito (foto), Fabio Ynoe de Moraes, Gustavo Marta, Carlos Henrique dos Anjos e André Mattar.

Neste estudo de coorte retrospectivo, os pesquisadores examinaram tendências de sobrevida, distribuição do estadiamento e utilização do tratamento para câncer de mama, a partir dos dados da Fundação Oncocentro de São Paulo. Pacientes diagnosticados com câncer de mama invasivo entre 2000 e 2019 foram identificados a partir do registro e dados demográficos, de estadiamento ao diagnóstico, intervalos entre o diagnóstico e sobre o tratamento recebido foram analisados ​​em blocos de 5 anos. A sobrevida global mediana foi estimada pelo método de Kaplan-Meier. O tratamento real foi comparado com modelos de utilização ideal derivados dos Módulos de Recursos Aprimorados e Máximos da National Comprehensive Cancer Network Guidelines.

A base de análise considerou 125.005 pacientes, com idade mediana ao diagnóstico de 55 anos, majoritariamente mulheres (99,4%; n = 124.218). Os autores descrevem que a proporção com doença precoce permaneceu estável ao longo do período avaliado (61,7% em 2000-2004, 62,4% 2015-2019). A sobrevida global mediana aumentou de 10,7 anos (2000-2004) para 11,7 anos (2010-2014); a sobrevida mediana para 2015-2019 não foi atingida. A sobrevida global mediana foi de 20,8, 15,1, 6,8 e 2,0 anos para os estágios I-IV, respectivamente.

A análise revela, ainda, que o intervalo mediano entre diagnóstico e tratamento mais que dobrou ao longo do tempo. De 2000 a 2004 e 2015-2019, o uso de quimioterapia diminuiu de 71,5% para 68,9%, enquanto o uso de radioterapia diminuiu de 64,0% para 56,5%, e o uso de cirurgia diminuiu de 80,3% para 74,8%. O uso de terapia endócrina variou entre 54% e 62%.

Em síntese, esses achados mostram lacunas importantes entre as estimativas observadas e aquelas baseadas em modelos de utilização do tratamento, em todos os estágios. “Nossos resultados ressaltam a necessidade de intervenções direcionadas para melhorar o acesso oportuno a cuidados baseados em evidências para pacientes com câncer de mama no estado de São Paulo”, sublinham os autores. “Identificar diferenças entre a utilização esperada e observada do tratamento permitirá que formuladores de políticas e governos avaliem criticamente a prestação de cuidados oncológicos e as necessidades de investimento em seus sistemas de saúde”, analisam. 

Referência:

Twenty years of breast cancer epidemiology and treatment patterns in São Paulo, Brazil—observed versus expected treatment utilization in a retrospective cohort. Verduzco-Aguirre, Haydee et al. The Lancet Regional Health – Americas, Volume 47, 101115