Pesquisadores da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) identificaram que mais de 80% dos casos de melanoma cutâneo diagnosticados no mundo em 2022 foram atribuíveis à exposição à radiação ultravioleta (UV). O estudo atualiza e aprimora as estimativas globais, destacando a necessidade de melhorar esforços de saúde pública em relação à segurança solar. “Ampliar a conscientização e a proteção contra a radiação UV, especialmente em regiões de alto risco e entre populações em envelhecimento, é fundamental para reduzir a carga global da doença”, alertam os autores.
Neste estudo, as frações atribuíveis à população (PAFs) foram calculadas por idade, sexo e país, comparando estimativas de incidência do GLOBOCAN 2022 com uma população de referência – uma coorte nórdica de 1930, minimamente exposta. Para melhorar a precisão, as estimativas anteriores foram ajustadas para melanoma lentiginoso acral, um subtipo que não está associado à exposição à radiação UV e é raro entre populações de pele clara, mas que representa cerca de metade dos casos de melanoma cutâneo em grupos de pele mais escura.
Os resultados foram publicados no International Journal of Cancer e mostram que aproximadamente 267.000 dos 332.000 casos de melanoma em todo o mundo em 2022 foram causados por radiação UV – o equivalente a 83% do total. A proporção de casos de melanoma cutâneo ligados à radiação UV foi maior em homens (86%) do que em mulheres (79%).
Embora existam outras fontes de exposição à radiação UV, a exposição solar continua sendo a mais importante. Isso se reflete nos resultados do estudo, demonstrando que regiões com as maiores taxas de melanoma atribuível à radiação UV foram Austrália e Nova Zelândia, norte da Europa e América do Norte, onde mais de 95% dos casos de melanoma cutâneo foram causados pela exposição à radiação UV.
A análise também revela que a incidência aumentou com a idade, com PAF de 76,39% (UI 95%: 66,24, 81,01) entre indivíduos de 30 a 49 anos, contra 86,13% (UI 95%: 80,04, 88,99) entre aqueles com mais de 70 anos.
Os pesquisadores da IARC sublinham que o melanoma cutâneo costumava ser uma doença rara, mas alterações na exposição à radiação UV nas últimas décadas, como bronzeamento artificial e viagens para regiões com altos níveis de radiação UV, resultaram em grandes aumentos na carga da doença.
Ainda que as taxas de incidência entre a geração mais jovem tenham diminuído em muitos países, o crescimento populacional e o envelhecimento devem provocar aumento importante no número de casos, com a projeção recente de mais de 510.000 novos casos de melanoma diagnosticados anualmente, com 96.000 mortes em 2040 – um aumento de 50% e 68%, respectivamente, observa o estudo.
"A maioria dos casos de melanoma cutâneo é prevenível", disse Oliver Langselius, pesquisador da IARC e autor principal do trabalho. “Campanhas de prevenção na Austrália – como a campanha SunSmart – têm sido altamente bem-sucedidas na prevenção do melanoma cutâneo e estima-se que tenham prevenido 103.000 casos de câncer de pele e 1.000 mortes, somente entre 1988 e 2003. Nossos achados não apenas permitem estimativas globais mais refinadas do melanoma cutâneo causado pela radiação UV, como também ressaltam a necessidade urgente de melhorar os esforços de saúde pública para reduzir a carga global da doença”, analisa.
Referência:
, , , et al. Global burden of cutaneous melanoma incidence attributable to ultraviolet radiation in 2022. Int J Cancer. 2025; 1-10. doi:10.1002/ijc.35463